35ª Bienal de São Paulo
6 set a 10 dez 2023
Entrada gratuita
A+
A-
35ª Bienal de
São Paulo
6 set a 10 dez
2023
Menu
Registros da visita. Grupo entre obras de Judith Scott.
Fotos: © Levi Fanan/Fundação Bienal de São Paulo

Manto do invisível: Mistério e memória em produções têxteis

na curva do vento em fuga da
captura óptica,
da armadilha da identidade
nesse momento preguei os olhos
no escuro
mirei a gente reluzindo ouro
coberta em manto
despistando cheiro entendimento
derrubando o cavalo do prestígio
em queda
cadente
¡mira! lá estrella en el ciello
faz um pedido

A materialidade têxtil esconde/revela complexas tramas entre corpo e território. Trançamos na coletividade o que imaginamos de um manto do invisível: que, de certa forma, seja uma bandeira/procissão para nossas demandas invisibilizadas, mas, ao mesmo tempo, não revele nossas identidades e, desse modo, sejamos incapturáveis.

Em Sonia Gomes, desatamos os nós da garganta para poder começar a falar. Ou, ao menos, começar a chorar ao resgatar as memórias afetivas com nossas avós costureiras e

refletir a respeito da cadeia invisível de exploração da terra e de pessoas da indústria da moda, que produz roupas feitas para não durar. Semear outras relações de respeito com a memória de um material categorizado como lixo.

De Judith Scott a Arthur Bispo do Rosário, localizamos a centralidade dos trabalhos no fazer manual e não apenas no objeto final. O fazer têxtil colocado como arteterapia não legitima o status de artista para certos corpos. Ou, ao menos, não durante suas vidas, até que suas linguagens sejam capturadas como a mais nova estampa publicitária.

Ao final da mediação, assim como as práticas de cuidado e de construção de família do Colectivo Ayllu, ativamos o gatilho: quando passamos um tempo juntos, tecendo o impossível e descosturando fronteiras, bordamos outro tempo. A partir de retalhos de outras visitas e de material de descarte da indústria têxtil, nos sentamos no chão e em roda para que cada pessoa fizesse sua parte desse manto, costurando, amarrando, alfinetando, escondendo retalhos de forma intuitiva, guiadas por seus pedidos: cada um fez um pedido silencioso, que realizou através da dança de um dos participantes da visita, que levantou presença junto ao manto com seu corpo pelo Pavilhão da Bienal.

¡mira! lá estrella en el ciello faz um pedido

Registros da visita. Grupo entre obras de Judith Scott © Levi Fanan / Fundação Bienal de São Paulo