35ª Bienal de São Paulo
6 set a 10 dez 2023
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São Paulo
6 set a 10 dez
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Vista de obra de Yto Barrada durante a 35ª Bienal de São Paulo – coreografias do impossível © Levi Fanan / Fundação Bienal de São Paulo

Yto Barrada

Yto Barrada leva o jogo a sério. Para essa eterna aprendiz, o jogo é uma poderosa ferramenta educacional que apela tanto para os sentidos quanto para o intelecto. Por exemplo, Land and Water Forms [Formas da terra e da água] (2019), uma série de trabalhos de acrílica e gesso sobre papelão, revela uma gramática de formas naturais adaptada de bandejas de moldes Montessori. Por outro lado, o jogo educacional é um quadro ideal para experimentação artística – a alegria de criar e quebrar regras. O vídeo Tree Identification for Beginners [Identificação de árvores para iniciantes] (2017) narra a história da primeira viagem da mãe da artista para os Estados Unidos – e histórias maiores da Guerra Fria e de ativismo pelos direitos civis – através de uma montagem cativante e hilária de locução, sonoplastia e brinquedos Montessori animados.

Historiadora de formação, Barrada se interessa pelas inúmeras maneiras pelas quais eventos históricos e o tecido social se constituem mutuamente. Como artista, ela está sempre buscando formas que possam traduzir a complexidade dessas relações. A política permeia seu trabalho, mas sempre obliquamente, pois questões sérias são mais bem abordadas com humor. Veja a leveza dos trocadilhos em seus cartazes (“Não sou exótica, estou exausta”; “Sheik Spear é árabe”…) ou o texto satírico “Uma modesta proposta para modernizar o Marrocos e maximizar seus recursos e eficiência” (2010), atribuído a um personagem fictício cujo nome, Yahia Sari, é uma adaptação árabe de Jonathan Swift.

Muitos personagens reais também vieram povoar seus trabalhos fotográficos e videográficos ao longo dos anos. The Sleepers [Os adormecidos] (2006), The Smuggler [O traficante] (2006) e The Magician [O mágico] (2003) são belos marginais que encontram maneiras criativas de resistir ao domínio neoliberal. Além disso, alguns personagens históricos se repetem; o maior deles é Hubert Lyautey, o primeiro Residente Geral francês no Marrocos (1912-1925), um colonizador brutal admirado por alguns por sua introdução do urbanismo modernista e sua (seletiva) preservação de tradições artesanais locais. Além do afeto superficial, Barrada expõe a figura de Lyautey, jogando com suas citações muito conhecidas e o famoso bigode em cartazes e colagens, ou oferecendo seu nome como uma brincadeira de (des)construção nas várias versões de seu Lyautey Unit Blocks. Nesta, como na maior parte de sua obra, política e jogo, seriedade e irreverência, caminham juntos.

omar berrada
traduzido do inglês por mariana nacif mendes

Yto Barrada (Paris, França, 1971. Vive em Nova York, Estados Unidos) é reconhecida por suas investigações de fenômenos culturais e das histórias oficiais, inspirada em sua infância em Tânger (Marrocos). Através de fotografia, filme, escultura, gravura e instalação, Barrada reinterpreta relações sociais, e revela a preponderância da ficção em narrativas históricas e institucionais. Seu trabalho foi exibido no Tate Modern (Londres, Inglaterra), MoMA (Nova York, EUA), Witte de With (Roterdã, Holanda), Haus der Kunst (Munique, Alemanha), Centre Pompidou (Paris, França) e na 52ª e 54ª Bienal de Veneza (Itália). Foi premiada no Deutsche Bank Artist of the Year (2011).