35ª Bienal de São Paulo
6 set a 10 dez 2023
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Vista de obras de Ubirajara Ferreira Braga durante a 35ª Bienal de São Paulo – coreografias do impossível © Levi Fanan / Fundação Bienal de São Paulo

Ubirajara Ferreira Braga

“O artista plástico mais profícuo da colônia”: quase 3 mil telas pintadas.

Os quase sessenta anos até quase morrer, no ano 2000 (quando o milênio não bugou, diferentemente da psiquê), Ubirajara Ferreira Braga (1928-2000) pintou milhares de quadros. 

E imprimiu também um cartão de visitas, no qual orgulhosamente expunha sua profissão: “artista plástico”. diz um filme que sua ficha diagnóstica o pintava como um “morador calmo, consciente” da colônia (psi-qui-á-tri-ca) do Juquery. 

E os arquivos públicos que a www guarda contam que ele foi, também, por um período breve, traficante de suas próprias obras – naquele outro tipo de morada que era mesmo um manicômio, que entrou pra história como a “cidade dos loucos”, construída na cidade de franco da rocha, e que tinha regras pétreas quanto à circu lação externa das obras feitas pelos moradores

Um outro tipo de história, contada à boca-menor dos que lutam por justiça, chama também aquela cidade de “a cidade dos mortos”: 50 milhares. 

Pois foi na rocha franca sobre a qual essa cidade ambígua, dos loucos, dos mortos, se ergueu, que Ubirajara Ferreira Braga, de prenome tupi, cujo significado O Senhor da Lança revela tanto de sua história, pintou seus quase 3 mil quadros. nessas voltas etimogeográficas, reside alguma coisa ali entre Ogum, o ferreiro (como o sobrenome do pintor; Deus da forja, das tecnologias de sobrevivência), o Xangô da verdade, que é um tipo – sempre – de justiça (e da pedreira, como a que abrigava a cidade da cidade dos loucos), e, é claro – aqui era onde essas palavras queriam chegar, desde o início – o Oxóssi: caçador, lançador, enlouquecido, enlouquecedor. morador da mata. 

Tem uma lenda que diz que foi por enlouquecer (de amor?) que Oxóssi foi parar no meio da mata, querendo apartar-se do mundo. só sua filha amada, Iansã, dançou sua morte, por muitas noites e dias, permitindo assim que seu espírito chegasse ao Orum, um outro tipo de céu. um outro tipo de morada. talvez calma. onde talvez Ubirajara agora resida. sem tanto vermelho, como vi nas obras que pintava dentro das paredes do Juquery.

tatiana nascimento

Ubirajara Ferreira Braga (Itariri, SP, Brasil, 1928 – Franco da Rocha, SP, Brasil, 2000) começou a pintar aos 58 anos após passar por tratamentos no Hospital Psiquiátrico do Juquery (São Paulo, Brasil). Suas obras compõem quase 30% do acervo do Museu Osório Cesar. A história de Ubirajara foi apresentada no documentário A soltura do louco (2000), de Cristian Cancino e Bernardo de Castro.