35ª Bienal de São Paulo
6 set a 10 dez 2023
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35ª Bienal de
São Paulo
6 set a 10 dez
2023
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Vista da instalação de Trinh T. Minh-ha durante a 35ª Bienal de São Paulo – coreografias do impossível © Levi Fanan / Fundação Bienal de São Paulo

Trinh T. Minh-ha

Partir do pressuposto mais elementar do filme – o olhar – rumo ao desconhecido, até às últimas consequências, até chegar novamente ao olhar. Questionado, expandido, recortado, revirado, esse ato-motor a todo momento pulsa na obra de Trinh T. Minh-ha, obra que escorre – como a água de Surname Viet Given Name Nam [Sobrenome Viet primeiro nome Nam] (1989) – pelos caminhos do cinema, da antropologia, da pós-colonialidade, da música e da teoria literária, áreas nas quais vem produzindo intensamente desde os anos 1980.

O olhar em xeque: o fazer fílmico, a observação do outro, as regiões intersticiais que nos constituem enquanto indivíduos e grupos. “O que eu vejo é a vida me olhando”, diz a voz off de Minh-ha em Reassemblage [Remontagem] (1982), filme-ensaio que contesta a visão de uma etnografia fundada na objetividade científica e na ansiedade do registro totalizante do real. Essa contestação é materializada sobretudo na forma, na linguagem, na artesania de quem, ao invés de pensar no binômio “forma-conteúdo”, produz tendo em conta tudo o que escapa ao controle quando se considera a política das “formas e forças” resistentes à lógica unificadora dos gêneros (de acordo com os escritos teóricos da própria Minh-ha). Assim, algumas questões se retroalimentam sem cessar: Quem está olhando? Quem está olhando quem ou o quê? Quem está olhando de volta? Quem vai olhar quem estava olhando de volta para quem estava olhando? E a espiral pode seguir dando voltas indefinidamente.

Tão dinâmicos e complexos quanto as abstrações de forma-força são os interesses e culturas que movem a artista: Senegal, China, a música experimental do grupo The Construction of Ruins, Japão, Togo, Vietnã… Também montanhas e desertos (The Desert Is Watching [O deserto está assistindo], 2003, e Bodies of the Desert [Corpos do deserto], 2005), onde os transportes e percursos do olhar refletem sobre a fugaz estadia humana no contexto geológico deste planeta cujo ritmo e dança – através do entrelugar fundado por Minh-ha – já não nos permitem nenhuma contemplação desinteressada.

igor de albuquerque

Trinh T. Minh-ha (vive em Berkeley, CA, EUA) é uma cineasta, escritora, compositora de música e professora universitária. Seu trabalho inclui nove longas-metragens, sendo um deles What About China? (2022), várias instalações colaborativas em larga escala, incluindo In Transit (Manifesta 13, Marselha, França) e L’Autre marche (Mueée du Quai Branly, Paris, França), e inúmeros livros, incluindo Elsewhere Within Here e Lovecidal. Ao longo de sua carreira, ela recebeu diversos prêmios, como o Vision CPH DOX (2022), Wild Dreamer Lifetime Achievement (Subversive Festival Zagreb, 2014), Women’s Caucus for Art Lifetime Achievement (2012) e MIPDOC Trailblazers (Cannes, 2006).