35ª Bienal de São Paulo
6 set a 10 dez 2023
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35ª Bienal de
São Paulo
6 set a 10 dez
2023
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Vista de obra de Tejal Shah durante a 35ª Bienal de São Paulo – coreografias do impossível © Levi Fanan / Fundação Bienal de São Paulo

Tejal Shah

Between the Waves [Entre as ondas] (2012), instalação de Tejal Shah, evoca paisagens que parecem ser simultaneamente extraterrestres e demasiado terrenas. É possível reconhecer o deserto, a varanda, o mangue, a cidade, o aterro sanitário, o mar ou a piscina como locações corriqueiras, lugares comuns do planeta. Ao mesmo tempo, a indumentária das performers e o tipo de relação que elas estabelecem entre si e com o entorno produzem excitante estranheza. A sensualidade rege o contato entre os corpos – sejam eles vegetais, animais ou minerais, materiais brutos ou manufaturados –, assim como a forma como são retratados: detalhadamente. Cores, texturas e sons desse universo igualmente cru e imaginado não são diferenciados ou organizados por hierarquias taxonômicas. Nessa horizontalização sensorial, trai-se um elemento central dos discursos modernos e universalizantes: o sujeito que produz a si mesmo como humano pela separação, classificação e consequente posse das coisas do mundo. Nessa obra, tudo é tocado e retratado como superfície sensível, excitável, inseparável de todo o restante.

Os ornamentos de cabeça destacam-se pelo contraste da cor branca e pela verticalidade por meio da qual cortam a imagem, aspecto fálico sem necessária correspondência genital. Apesar de assumirem uma função penetrativa nas cenas mais explícitas, também passam por chifre, nadadeira, funil ou cone, conferindo uma espécie de animalidade e objetualidade aos corpos em movimento. Além dessas próteses contrassexuais1, há outro elemento cuja carga simbólica e performativa vale a pena notar: o arranjo de flores artificiais, esponjas de banho e outros objetos coloridos cuidadosamente depositado no fundo de uma piscina, na qual as performers nadam ao redor dele, como peixes em volta de corais marinhos. Não há contradição entre natureza e artifício, há apenas brilho e beleza, e, entre as ondas, os corpos orbitam seu entorno.

miro spinelli

Tejal Shah (Bhilai, Índia, 1979. Vive em Bir, Índia) considera-se um tipo de artista que trabalha com algum tipo de natureza. Investe profundamente em relacionalidade, amor, cuidado e cura, de forma a honrar as diferenças e ser sensível aos fluxos de poder, privilégio e desvantagem ao longo de linhas interseccionais complexas. Entre outras coisas, a visão de mundo de Shah é baseada na filosofia e prática budista não-dual, pelo queer-feminismo e pela eco-poética. Seus trabalhos foram amplamente exibidos em museus, galerias e festivais de cinema, incluindo a Documenta 13 (Kassel, Alemanha), 4ª Kochi-Muziris Biennale (Índia), Tate Modern (Londres, Inglaterra) e Centre Pompidou (Paris, França).

1. Sobre as noções de contrassexualidade e prótese, ver Paul B. Preciado, Manifesto contrassexual. São Paulo: n-1, 2014. Nesse livro, o autor lembra que o falo não é uma substituição do pênis, mas o contrário, e que o pênis, por sua vez, não passa de um dildo de carne.

Onde ver
INTERBEING: Explorando o eu, o outro e o mundo por meio da arte e da não dualidade
Workshop – Tejal Shah
08/09/2023 – 10/09/2023, 9h – 18h
Pavilhão Ciccillo Matarazzo