35ª Bienal de São Paulo
6 set a 10 dez 2023
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São Paulo
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Vista de obras de Taller 4 Rojo durante a 35ª Bienal de São Paulo – coreografias do impossível © Levi Fanan / Fundação Bienal de São Paulo

Taller 4 Rojo

No início da década de 1970, o Taller 4 Rojo articulou uma visualidade crítica e realizou ações diretas acompanhando movimentos sociais durante os governos da Frente Nacional. Essa aliança entre os partidos Liberal e Conservador resultou em um dos períodos mais autoritários da Colômbia, com violação aberta de direitos humanos, assim como consolidou o conflito armado no país.

Nesse contexto, o Taller 4 Rojo fundou uma escola popular e vinculou- se a comunidades camponesas e indígenas, sindicatos e setores de marginalização urbana, realizando trabalho de campo e documentando suas experiências. Seus registros, juntamente com imagens coletadas da imprensa, eram a substância testemunhal que o grupo transfigurava por meio de operações emprestadas da arte gráfica e do cinema latino-americano da época: a montagem, a formação de séries e sequências e o trabalho com tramas e alto contraste.

A gramática visual do Taller 4 Rojo não foi o produto de uma distância analítica, mas do caminhar lado a lado com as comunidades que logo foram trazidas para suas imagens. Cartazes como A la huelga 100 a la huelga 1000 [À greve 100 à greve 1000] (1978) foram realizados ao longo dos anos de colaboração com o sindicalismo independente. A pasta Testimonios [Testemunhos] (1974) foi uma das primeiras a pôr em evidência as práticas de tortura conduzidas pelas forças militares em meio à perseguição de movimentos políticos dissidentes em todo o país. As gravuras mostram corpos feridos e amarrados, com os olhos vendados ou gritando em meio a paisagens abertas e despovoadas. Na trilogia América II, a montagem e a serigrafia fotográfica partem do corpo torturado e o reinserem em uma trama mais complexa, que parece assinalar a natureza teológico-política dos pactos de poder como continuidade histórica.

A emblemática trilogia fotosserigráfica Agresión del imperialismo a los pueblos, A la agresión del imperialismo: guerra popular e Vietnam nos señala el caminho [Agressão do imperialismo às aldeias, À agressão do imperialismo: guerra popular e Vietnã nos mostra o caminho] foi feita em 1971-1972 em solidariedade à resistência popular no Vietnã, mas também a outros processos de luta anti-imperialista na América Latina e na África.

O que nos acontece hoje, quarenta anos depois, quando vemos a sequência da nota de dólar se desintegrando e o avião de guerra despedaçado em um campo? Por um momento, essas imagens parecem antecipar o ponto em que a guerra e o capital se molecularizam, abrindo caminho para a financeirização, para a sofisticação tecnologizada do massacre. Mas esse ponto de virada também é um ponto de interrupção dos impulsos totalizantes da história do capital. Entre as três imagens, é possível reter o movimento do corpo de uma camponesa, que vai adquirindo diferentes tonalidades, ganhando espaço e proximidade, sinalizando esse outro tempo dos corpos que não tiram os pés do chão, e se regeneram entre as ruínas que a mercadoria e o necropoder deixam em seu rastro.

fernanda carvajal
traduzido do espanhol por ana laura borro

Taller 4 Rojo (Colômbia, 1970-1978) foi um coletivo interdisciplinar que utilizava a arte para apoiar lutas sociais de sindicalistas, camponeses e indígenas em contexto político autoritário. Em suas diversas fases, o coletivo foi formado por Diego Arango, Nirma Zárate, Jorge Mora, Umberto Giangrandi, Carlos Granada e Fabio Rodríguez – todos estudantes ou professores na Universidad Nacional de Colombia. Seus integrantes participaram da 34a Bienal de Veneza, salões e eventos gráficos em Porto Rico, Havana, Bogotá e Cali, entre outros. Suas obras, como cartazes elaborados em fotoserigrafia, fazem parte de coleções como as do Museo de Arte de la Universidad Nacional de Colombia (Bogotá) e do Museu Reina Sofía (Madri, Espanha).