35ª Bienal de São Paulo
6 set a 10 dez 2023
Entrada gratuita
A+
A-
35ª Bienal de
São Paulo
6 set a 10 dez
2023
Menu
Vista de obras de Sonia Gomes durante a 35ª Bienal de São Paulo – coreografias do impossível © Levi Fanan / Fundação Bienal de São Paulo

Sonia Gomes

“Um fio invisível e tônico
Pacientemente cose a rede
De nossa milenar resistência.”
– conceição evaristo1

Os materiais pedem à artista que lhes dê outra vida. Ela, então, costura, torce, encapa, amarra e transforma retalhos, tecidos, fios e arames em objetos escultóricos. Ato contínuo, a artista convida a espectadora a se mover, se deslocar, ver com o corpo suas criações. 

Impossível apreciar o trabalho de Sonia Gomes apenas com os olhos. Suas criações convocam a nos deslocarmos de uma posição passiva para a de uma espectadora engajada, que se movimenta, se abaixa, inclina o corpo, levanta a cabeça, ginga, em uma dança com o objeto, a fim de percebê-lo de outro ângulo, de descobrir e atentar ao detalhe que se esconde na próxima torção, no outro lado, ali embaixo ou lá em cima. 

Suas obras não são figurativas e, ainda assim, temas como raça, gênero e temporalidades surgem nas várias leituras críticas sobre seu trabalho artístico. Quais são as histórias, as memórias, os afetos guardados nos tecidos e nos panos utilizados por Sonia Gomes? Quais são as origens dos materiais e quais caminhos eles ainda percorrerão depois desta exposição? O tempo em que esses objetos ainda tinham uma função utilitária – o vestido de casamento, a blusa de festa, o uniforme da escola, a toalha de mesa, a capa de proteção, a calça de linho etc. – para um novo tempo em que, amarrados, torcidos, esgarçados e costurados, se transformam em objetos escultóricos. 

Na 35ª Bienal de São Paulo serão apresentadas dezenas de obras da artista mineira, formando um corpo robusto e representativo de sua poética e trajetória. Obras de parede, pendentes, vergalhões e algumas peças da série Torção – marca registrada de Gomes – irão compor o espaço. Desse modo, o tempo condensado, tônico e de memórias enredadas da milenar resistência de mulheres negras ganha forma e se manifesta nas coreografias do impossível

juliana de arruda sampaio

1. Conceição Evaristo, “A noite não adormece nos olhos das mulheres”, in Cadernos negros, vol. 19, org. Márcio Barbosa, Sônia Fátima Conceição & Esmeralda Ribeiro. São Paulo: Quilombhoje; Ed. Anita, 1996.

Sonia Gomes (1948, Caetanópolis, MG, Brasil. Vive em São Paulo, Brasil) junta tecidos, roupas e adereços para criar esculturas têxteis que, através da linha, torção e tensão, formam espécies de desenhos afetivos em relação ao espaço que as rodeia. Gomes já teve sua obra exposta no MASP (Brasil), Museu de Arte Contemporânea de Niterói (Brasil), Solomon R Guggenheim Museum (Nova York, EUA), 11th Liverpool Biennial (Inglaterra), 13th Gwangju Biennale (Coreia do Sul) e na 56ª Bienal de Veneza (Itália). Seu trabalho está presente em coleções permanentes do Centre Pompidou (Paris, França), Malba (Buenos Aires, Argentina), MASP (São Paulo, Brasil), Museo Reina Sofía (Madri, Espanha), National Gallery of DC (Washington, DC, EUA) e Tate Modern (Londres, Inglaterra).