35ª Bienal de São Paulo
6 set a 10 dez 2023
Entrada gratuita
A+
A-
35ª Bienal de
São Paulo
6 set a 10 dez
2023
Menu
Vista da obra O estrangeiro, de Sidney Amaral durante a 35ª Bienal de São Paulo – coreografias do impossível © Levi Fanan / Fundação Bienal de São Paulo

Sidney Amaral

Na parte final de sua vida, Sidney Amaral (1973-2017) trabalhou como professor de arte na rede pública de ensino do município de Mairiporã, em São Paulo. Essa experiência, aliada à sua sensibilidade e a seu projeto político-ideológico, acabou por galvanizar uma obra que ressaltava do cotidiano proletário uma complexidade que frequentemente lhe é sonegada. Daí que elementos da literatura e da arte clássica são às vezes reinterpretados em suas narrativas plásticas e incorporados a elas, as quais não excluem, igualmente, aspectos psicológicos e dados biográficos do autor que, mesmo perturbadores, são por ele assim enfrentados. 

O amálgama do artista, pesquisador e professor resultava na realização de uma constelação de proposições poéticas, que especularam intensamente com as linguagens do desenho, da pintura, da escultura, da gravura e da instalação. 

Em O estrangeiro (2011), o artista realiza, com tinta acrílica, mais um de seus característicos autorretratos. De fato, de maneira recorrente, Sidney Amaral apresenta o próprio corpo como território conflagrado pelas expressões mais introvertidas, íntimas e particulares – e ainda por aquelas de caráter extrovertido e social. 

Na obra em questão, Amaral assume o papel de Caronte, barqueiro que na mitologia grega transporta as almas do reino dos vivos para o dos mortos. Essa travessia também era a do artista, que enfrentava os obstáculos de um momento muito menos favorável do que hoje à circulação da produção simbólica afro-diaspórica. Estrangeiro em ambos os domínios, da vida e da morte, o artista e sua obra são os elementos que conectam esferas díspares. Essa penosa jornada não era, claro, apenas a dele, e o artista compreendia isso. É muito significativo que, na sua 35ª edição, a Bienal de São Paulo inverta essa equação e a obra de Amaral, precocemente morto, seja agora consagrada no Olimpo que ele antes retratou como obstáculo. 

claudinei roberto da silva

Sidney Amaral (São Paulo, Brasil, 1973 – 2017) foi um renomado artista visual e professor de São Paulo, conhecido por sua vasta produção artística que explorou diversas linguagens e discursos poéticos. Embora tenha se dedicado intensamente à escultura tridimensional em materiais tradicionais, como mármore e bronze, também criou muitas obras bidimensionais. Em seu trabalho de pintura, utilizou aquarela, tinta acrílica e lápis, demonstrando habilidades artesanais no desenho. Por meio de sua poética, o artista levantou questões fundamentais relacionadas à identidade, ampliando as perspectivas nas discussões sobre a representação do homem negro no contexto brasileiro.