35ª Bienal de São Paulo
6 set a 10 dez 2023
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São Paulo
6 set a 10 dez
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Vista de obra de Sarah Maldoror durante a 35ª Bienal de São Paulo – coreografias do impossível © Levi Fanan / Fundação Bienal de São Paulo

Sarah Maldoror

Desde a escolha do próprio nome, retirado dos cantos de Lautréamont, Sarah Maldoror (1929-2020) sempre uniu sua visada de poeta a um gesto político que rechaça narrativas institucionalizadas para compor cada uma de suas obras: sejam as escritas ou as cinematográficas, que somam mais de vinte produções entre documentários e ficções. Diferentes facetas do pensamento pan-africano e protagonistas de processos de resistência constituem traços marcantes da obra de Maldoror. 

Franco-antilhana no Movimento Popular de Libertação de Angola, filmou a guerra colonial pelos olhos de uma mulher, em Sambizanga (1972) – filme em exibição na 35a Bienal – convicta de que a luta estaria fadada ao fracasso se não envolvesse toda a população em ações em seu dia a dia e não como mera operação de militares. Esse trabalho que deflagra o que historicamente foi invisibilizado é também o legado artístico construído da perspectiva daquela que, na Paris de 1956, foi a única mulher entre os 63 delegados no Primeiro Congresso de Escritores e Artistas Negros e contribuiu para a construção de um teatro no qual a presença africana suplantasse personagens serviçais, com a fundação da companhia Les Griots. 

Ao se tratar do trabalho de Sarah Maldoror, torna-se incontornável abordar o que não foi possível realizar. Os enfrentamentos todos, de gênero e de raça, além das dinâmicas Primeiro-Terceiro Mundo – hoje Norte-Sul Global –, das complexidades dos Estados-nações que emergiram da descolonização africana a partir de meados da década de 1950, se expressam ainda em projetos e roteiros nunca filmados e por isso também integram as coreografias do impossível. Dos achados entre seus documentos pessoais se reforça, sobretudo, seu projeto poético e singular em favor do coletivo. 

heitor augusto

Sarah Maldoror (Gers, França, 1929 – Paris, França, 2020) foi poeta e cineasta, tendo dirigido mais de 46 filmes de ficção e documentários. O longa Sambizanga (1972) e seu primeiro curta-metragem, Monangambé (1968), vencedor do festival de Tours , foi selecionado no festival de Cannes, são baseados em obras do escritor Luandino Vieira. Em 1956, foi uma das fundadoras da companhia de teatro negra Les Griots, em Paris.