35ª Bienal de São Paulo
6 set a 10 dez 2023
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São Paulo
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Vista de obra de Sammy Baloji durante a 35ª Bienal de São Paulo – coreografias do impossível © Levi Fanan / Fundação Bienal de São Paulo

Sammy Baloji

Há 130 anos era concluída a obra do Hotel Tassel em Bruxelas, na Bélgica. Assim nascia a art nouveau, estilo que celebrava a modernidade e sua classe dirigente, a burguesia industrial, que acumulara enorme riqueza ao entrelaçar seu destino com o dos assuntos coloniais. 

Em Hobé’s Art Nouveau Forest and Its Lines of Color [A floresta art nouveau de Hobé e suas linhas de cor] (2021), Sammy Baloji reproduz um display em estilo art nouveau, incorporando alguns padrões inspirados pela tradição têxtil congolesa. Padrões similares, na realidade, foram integrados ao design do Museu Real da África Central, em Tervuren, na Bélgica, para não mencionar a arquitetura e os objetos geralmente feitos com materiais da colônia congolesa: cobre, marfim e madeira. Baloji enfatiza essa conexão entre o estilo floral da art nouveau e a expropriação colonial. Além disso, as cores escolhidas pelo artista foram as mesmas que o escritor e historiador W.E.B. Dubois utilizou para os diagramas mostrados em Exhibit of American Negroes [Exposição de negros americanos] durante a Exposição Universal de 1900, em Paris. Essa escolha, de acordo com Baloji, alude à intenção de “confundir a leitura etnográfica que se poderia ter dessas obras ao enfatizar o aspecto moderno dessas práticas antigas”.1 O arquivo colonial é explorado para romper o monopólio ocidental da modernidade. 

Assim, duas liturgias coloniais, a missa católica e o trabalho na fábrica, são apresentadas no filme Tales of the Copper Crosses Garden: Episode I [Conto do Jardim das Cruzes de Cobre: Episódio 1] (2017). Nele, imagens de uma fábrica de processamento de cobre na província de Katanga, na República Democrática do Congo, são acompanhadas da gravação de cantos católicos da era colonial. As canções são executadas pelo coro congolês dos Cantores da Cruz de Cobre. Em uma fotografia em preto e branco que Baloji justapõe ao filme, a cruz de cobre, também conhecida como Cruz de Katanga, decora as batinas dos coralistas. Esse tipo de cruz, no entanto, era utilizado como moeda na região desde o século 13. Chamar a atenção para esse fato demonstra, mais uma vez, a habilidade desse artista para desnudar conexões ocultas do colonialismo, dessa vez com a religião, o extrativismo e a economia. 

marco baravalle
traduzido do inglês por gabriel bogossian

1. Portfolio of the artist. Available at: imanefares.com/wp-content/uploads/2020/04/if-sammybaloji-portfolio-eng-1.pdf. Accessed on: July 2023.

Sammy Baloji (Lubumbashi, República Democrática do Congo, 1978. Vive entre Lubumbashi e Bruxelas, Bélgica) se inspira na vida cotidiana do povo congolês e expressa essa preocupação artística por meio da fotografia. Baloji faz isso explorando o presente de seu país e recontando sua história sob a perspectiva de seu povo. Entre seus focos atuais estão etnografia, arquitetura e urbanismo. Ele analisa a identidade africana hoje estudando o passado congolês e baseando seu conhecimento em todos os sistemas políticos que a sociedade experimentou. Ele frequentemente combina fotografias de arquivo com suas próprias imagens das pessoas e lugares que carregam as marcas do colonialismo. Seu trabalho foi exposto na 18ª Mostra Internacional de Arquitetura – La Biennale di Venezia (Itália) e faz parte da coleção do Tate Modern (Londres, Inglaterra).