35ª Bienal de São Paulo
6 set a 10 dez 2023
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35ª Bienal de
São Paulo
6 set a 10 dez
2023
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Vista de obra de Rosa Gauditano durante a 35ª Bienal de São Paulo – coreografias do impossível © Levi Fanan / Fundação Bienal de São Paulo

Rosa Gauditano

As fotografias relacionam-se com o tempo. E essa experiência insere-se em uma dinâmica do olhar, que parte de um lugar no passado que aponta para outro tempo que jamais cessa de se reconfigurar. É desse modo que as fotografias de Rosa Gauditano abrem para nós o tempo. Era 1964 quando a ditadura interveio nos costumes visando a moralização da sociedade. A repressão era, explícita e predominantemente, dirigida aos “subversivos”, aos “comunistas”, às pessoas “anormais” e às pessoas com comportamentos “desviantes”. Assim, pessoas negras e LGBTs1 foram perseguidas, detidas de modo arbitrário, violentadas e mortas. Ao mesmo tempo, em um contraponto, lésbicas criavam movimentos de resistências. E uma dessas ações foi a manutenção de locais de sociabilidades, como bares e boates. Em 1979, Gauditano, contratada pela revista Veja e sensível aos acontecimentos políticos, tornou visível o invisibilizado ao registrar e celebrar os corpos lésbicos, durante dois meses, no Ferro’s Bar, em São Paulo. São registros marcados por uma forte proximidade entre a fotógrafa e as frequentadoras. São imagens que, para além das estigmatizações vigentes, narraram a intimidade dos casais, os elos afetivos estabelecidos no bar, as novas configurações familiares, e expunham, esteticamente, uma resistência política. Apesar de o ensaio ter sido censurado, a jovem fotojornalista não imaginava que seu olhar apontaria para o futuro, tempo em que as mulheres lésbicas do presente ocupariam o mesmo espaço das mulheres do passado. Assim, as cenas captadas suscitam novas experiências, recriando memórias e sendo renovadas por elas, pois, em 19 de agosto de 1983, o bar, testemunha do processo de formação política do grupo Lésbica-Feminista (LF), protagoniza o Levante do Ferro’s Bar – a primeira manifestação organizada por lésbicas contra a discriminação e o silenciamento da sexualidade entre mulheres. Essa data, desde 2008, é reconhecida em São Paulo como o Dia do Orgulho Lésbico. E, em 2023, Lésbicas de Rosa Gauditano retornam como propositoras de novas reflexões. 

barbara copque

1. Aqui optou-se por manter a grafia da época.

Rosa Gauditano (São Paulo, Brasil, 1955. Vive em São Paulo) trabalha com projetos de fotografia, exposições e livros que documentam, sobretudo, populações marginalizadas. Participou de inúmeras exposições individuais e coletivas no Brasil, Londres, França, México, Itália, USA e China. Entre suas publicações estão Elas por elas (2017), Povos indígenas no Brasil (2011), Raízes do povo Xavante (2003) e A mesma luta (2021). Seus trabalhos fazem parte dos acervos do Centro de La Imagem e Cineteca de Monterrey (México), MASP, MIS, Museu Afro-Brasil (São Paulo, Brasil), Museu de Fotografia de Curitiba (Brasil) e Fundación Salvador Allende (Santiago, Chile); Cinemateca de Monterrrey (México), entre outros.