35ª Bienal de São Paulo
6 set a 10 dez 2023
Entrada gratuita
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35ª Bienal de
São Paulo
6 set a 10 dez
2023
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Vista da instalação O espaço físico pode ser zona de disputa, convenções e certezas falíveis de Rommulo Vieira Conceição durante a 35ª Bienal de São Paulo – coreografias do impossível © Levi Fanan / Fundação Bienal de São Paulo

Rommulo Vieira Conceição

Milton Almeida dos Santos (1926- 2001) talvez tenha sido o mais proeminente e importante geógrafo brasileiro do século 20 que se especializou em estudos urbanos e teorizou as condições sociais e políticas da urbanização brasileira, antes que os estudos pós-coloniais ganhassem base acadêmica. Em seu livro A natureza do espaço: Técnica e tempo. Razão e emoção. Razão e Emoção, de 1997, Santos afirmava que a cidade moderna de hoje é “luminosa” e que a “naturalidade” da tecnologia e da informação resulta em uma condição rotineira e mecânica da vida cotidiana. Por outro lado, os espaços da cidade ocupados pelos pobres são áreas urbanas “opacas”; no entanto, elas representam os espaços de aproximação e de criatividade em oposição às zonas luminosas e aos “espaços de exatidão”. São os espaços inorgânicos que se abrem e, por escaparem às racionalidades hegemônicas, as populações pobres, excluídas e marginalizadas, são fonte de criatividade e de possibilidades futuras. 

Em seu último trabalho, Rommulo Vieira Conceição recorre às teorias espaciais de Santos, bem como a fotografias das condições espaciais cotidianas, elementos arquitetônicos e detalhes de espaços opacos marginalizados de cidades brasileiras, como a Favela Nova Jaguaré, em São Paulo, a Favela Santa Marta, no Rio de Janeiro, e o Bairro Humaitá, em Porto Alegre. Nesses espaços opacos, que por vezes estão sob pressão da polícia militar, Conceição aborda a construção criativa de experiências localizadas e suas críticas implícitas à fusão entre capitalismo, colonialismo e poder. Em sua instalação escultórica para a 35ª Bienal de São Paulo, o artista constrói paredes com materiais de construção e com detalhes comumente usados em favelas e bairros das periferias, como tijolo de barro seis furos, telha cerâmica e balaústres coloniais. Essas paredes e colunas dóricas greco-romanas sustentam frontões neoclássicos que expressam valores socioculturais e políticos. Eles são justapostos por escudos suspensos da brigada militar com imagens de batalhões de choque, remetendo a janelas ou espelhos. Por fim, uma série de carrinhos de supermercado são dispostos e espalhados pela obra, uma referência ao capitalismo e ao consumo, mas também à mobilidade que oferece a possibilidade dos encontros, além da construção e do redesenho de valores. 

mario gooden

Rommulo Vieira Conceição (Salvador, BA, Brasil, 1968. Vive em Porto Alegre, RS, Brasil) é um artista que trabalha com diferentes técnicas e meios como instalação, escultura, desenho, fotografia e vídeo, explorando as relações com o espaço. Participou de mostras individuais em instituições como Instituto Goethe de Porto Alegre (Brasil) e Centro Cultural de São Paulo (Brasil). É mestre em Poéticas Visuais pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Seus trabalhos foram exibidos em exposições individuais e coletivas, além de residências artísticas em diversos países.