35ª Bienal de São Paulo
6 set a 10 dez 2023
Entrada gratuita
A+
A-
35ª Bienal de
São Paulo
6 set a 10 dez
2023
Menu
Vista da obra Terrible Sounds [Sons terríveis], de Philip Rizk na 35ª Bienal de São Paulo – coreografias do impossível © Levi Fanan / Fundação Bienal de São Paulo

Philip Rizk

Terrible Sounds [Sons terríveis] (2022) consiste em um tríptico composto de uma projeção de vídeo em dois canais, acompanhada de uma série de gravuras. 

Três elementos conceituais embasam essa obra. 

O primeiro deles nos leva a 1922, ano em que os britânicos consentiram em dar ao Egito sua independência. Foi nesse ano que o arqueólogo Howard Carter (1874-1939) encontrou a tumba de Tutancâmon, que daria início a um movimento de egiptomania em escala mundial. Por desentendimentos com as elites locais, a expedição britânica de Carter foi forçada a abandonar o local. A tumba, como todas as antiguidades egípcias, servira para alegações sobre a grandeza dos britânicos. Ela foi reaberta em 1924, a pedido do rei Fuad I, como símbolo do passado glorioso do Estado africano e de suas demandas por independência nacional. 

O segundo elemento conceitual é a música, tanto como poder libertador quanto por seus laços com o colonialismo e o neocolonialismo. Em 1932, como parte de um movimento geral de elites ansiosas pelo reconhecimento do Egito como participante da modernidade ocidental, foi organizada a Conferência da Música Árabe, que tinha o intuito de ocidentalizá-la. Em um texto que acompanha Terrible Sounds, Rizk elabora algumas perguntas centrais: “Como nos dirigirmos para os sons do colonialismo? Como nos dirigirmos para os sons do neocolonialismo? Mas, mais importante, como nos dirigirmos para o som de nenhum deles?”. A resposta à última pergunta é sugerida pela história de Hartmut Geerken (1939-2021), músico alemão que, fascinado pelo caráter afrofuturista da obra do compositor afro-americano Sun Ra (1914-1993), mudou-se em 1967 para o Cairo, onde foi um dos criadores do primeiro grupo egípcio de free jazz. A segunda projeção mostra uma gravação musical de 2021, na qual Geerken, ao lado de músicos egípcios e libaneses, responde com uma sessão de improvisação à intenção da Conferência de ocidentalizar a música árabe em formas europeias. 

O terceiro elemento conceitual, que surge nas duas projeções, assim como nas gravuras em exibição, são alusões às revoltas camponesas que levaram os britânicos a anunciar a independência nominal do Egito em 1922. Em Terrible Sounds, é possível reconhecer alguns dos traços típicos da obra de Rizk, que utiliza com maestria materiais de arquivo, rompendo a linearidade cronológica e espacial, reorganizando a narrativa hegemônica de uma perspectiva decolonial. 

marco baravalle
traduzido do inglês por gabriel bogossian

Philip Rizk (1982. Vive entre Cairo, Egito e Berlim, Alemanha) é cineasta e escritor. Em seus filmes, ele faz experimentos utilizando métodos para “tornar estranho o habitual”. Em Out on the Street (2015), ele trabalha com a performance; em seus filmes de found footage, Mapping Lessons [Mapeamento de lições] (2020) e Terrible Sounds [Sons terríveis] (2022), ele experimenta com a técnica de montagem. Em um mundo que está em colapso, uma pergunta que percorre os projetos de Rizk é: “como nos preparamos para o que está por vir?”. Rizk é membro do coletivo de vídeo Mosireen, responsável pelo arquivo 858.ma. Seus escritos incluem o ensaio “2011 is not 1968: a letter to an onlooker” [2011 não é 1968: uma carta a um espectador] e o livro em coautoria com Jasmina Metwaly On Trials: A Manual on the Theatre of Law [Sobre julgamentos: Um manual sobre o Teatro da Lei] (2021). Ele leciona com certa frequência em salas de aula e workshops. É fellow 2022/23 do The Berlin Artistic Research Grant Programme.