35ª Bienal de São Paulo
6 set a 10 dez 2023
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São Paulo
6 set a 10 dez
2023
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Vista de obras de Patricia Gómez e María Jesús González durante a 35ª Bienal de São Paulo – coreografias do impossível © Levi Fanan / Fundação Bienal de São Paulo

Patricia Gómez e María Jesús González

Os projetos e as intervenções dessas duas artistas partem de espaços conflituosos e residuais: bairros gentrificados, prisões desativadas, hospitais psiquiátricos em desuso ou, como em À tous les clandestins [Para todos os clandestinos] (2019), centros abandonados de detenção de imigrantes.

Essas periferias de sentidos articulam discursos de tensões e saturações semânticas que, aludindo ao marginal, escrevem a centralidade do que não vemos porque não queremos ver.

Ler no esquecimento dessas margens − na degradação desses resíduos sociais − implica escrever, com base nas ruínas do silêncio, o núcleo de uma memória que constitui uma sobreposição de textos.

O centro de detenção de imigrantes de Nouadhibou, na Mauritânia, criado para controlar o movimento migratório feito pelo mar, da África para as Ilhas Canárias, responde a uma realidade física e, portanto, simultaneamente, a uma realidade moral.

A proposta de María Jesús González e de Patricia Gómez ajusta-se, em essência, a essa realidade física. De fato, nesse e em outros projetos, elas trabalham seguindo diretrizes artístico-técnicas tradicionais: estamparia, gravura, arranque de murais, fotografia e vídeo. Por sua vez, a exposição das dessas obras produzidas também se faz de modo tradicional. No entanto, o que se propõe, além do estético, não nos coloca diante de um objeto, mas de um sujeito: um sujeito ativo que nos ativa e nos desafia eticamente.

O sujeito proposto parece que diz respeito, narrativamente, à memória, uma vez que todas as intervenções das artistas têm um sentido arqueológico que se baseia na recuperação sistemática de estratos diferenciados de signos. Apesar disso, essa arqueologia não se baseia nem em uma restauração da experiência vivida nem em seu resgate documental, mas em nos fazer experimentar a recuperação que foge à nostalgia da memória e a seus desvios românticos tardios.

Assim, o trabalho apresentado não configura um resultado, mas as pegadas de um processo: o de nossa experiência como sujeitos éticos.

david pérez
traduzido do espanhol por ana laura borro

Patricia Gómez e María Jesús González (Valencia, Espanha, 1978. Vivem em Valencia) desenvolvem uma prática colaborativa em trabalhos com vídeos, fotografias e impressões em grande escala acerca de lugares abandonados desde 2002. Realizaram exposições individuais e coletivas nos Estados Unidos e na Espanha, tais como na Fundació Pilar i Joan Miró (Palma, Espanha). 

Esta participação é apoiada por Acción Cultural Española (AC/E) e Embaixada da Espanha no Brasil.