35ª Bienal de São Paulo
6 set a 10 dez 2023
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São Paulo
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2023
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Vista de obra de Nontsikelelo Mutiti durante a 35ª Bienal de São Paulo – coreografias do impossível © Levi Fanan / Fundação Bienal de São Paulo

Nontsikelelo Mutiti

Ao longo da diáspora negra podemos nos maravilhar com a capacidade dos povos africanos de afirmar a força de suas tradições, de sua imaginação e sua capacidade criativa. De tão marcante, além de intensa e plástica, a produção africana disseminou-se por diversos territórios, resultando uma cultura nova e ancestral. Na diáspora, a beleza das permanências e das releituras deram origem a uma cultura afro-americana, atraindo novos símbolos e sentidos, sobretudo estéticos e políticos, fruto de elementos e vivências cotidianas que constantemente ganham novos sentidos. 

A produção artística de Nontsikelelo Mutiti, nascida no Zimbábue, promove um mergulho nos significados das tranças e dos cabelos como um dos elementos da diáspora africana que carregam não só sentidos políticos e estéticos, mas subjetivos, que dizem muito do cotidiano, das experiências e da história das pessoas negras na diáspora. A capacidade de produzir uma técnica e uma cultura visual que se manifesta em determinado tipo de trançado, cujas repetições, no todo, produzem um padrão singular, são consideradas pela artista uma técnica carregada de sentidos culturais de intensa força política. A trama de tranças que ornamenta os oris de pessoas negras, sobretudo mulheres, além de estar diretamente ligada ao desejo de manifestar beleza, desde a década de 1970 também está ligada ao desejo de afirmação da ancestralidade africana. O corpo como instrumento político, que deixa mensagens por onde passa, foi habilidosamente utilizado como ferramenta de demonstração da beleza e da conexão com o continente africano, seja nas ruas do Brasil, dos Estados Unidos, Inglaterra, França, Colômbia, Cuba, assim como em todo o continente africano. Assim, ocorreu a apropriação que transformou em artístico-político-cultural aquilo que antes, talvez, fosse artístico-cultural-ancestral. 

Para mergulhar nesse universo de apropriações na diáspora, Mutiti explorou o espaço das lojas de produtos de beleza (Beauty Supply Stores), identificando elementos estéticos e visuais que se repetem e que demonstram anseios de beleza e humanidade, que se manifestam através de uma gramática particular dos desejos de pessoas negras na diáspora: African Pride, Africa’s Best, Dark and Lovely, Africare, Black Thang são expressões que, antes de chegarem às embalagens dos produtos de beleza, fizeram parte de um vocabulário político. Tão fluidas como os fios que atravessam o espaço entre os dentes do pente, para Mutiti são a imaginação e a capacidade criativa africana e afro-diaspórica. 

luciana brito

Nontsikelelo Mutiti (Harare, Zimbábue, 1982) é artista visual e educadora. Está comprometida em elevar o trabalho e as práticas do passado, presente e futuro de comunidades negras, através de uma abordagem conceitual no design, publicações e práticas de arquivo. Atualmente é diretora dos estudos de pós-graduação em design gráfico na Yale School of Art (New Haven, CT, EUA).