35ª Bienal de São Paulo
6 set a 10 dez 2023
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São Paulo
6 set a 10 dez
2023
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Vista de obras de Nikau Hindin durante a 35ª Bienal de São Paulo – coreografias do impossível © Levi Fanan / Fundação Bienal de São Paulo

Nikau Hindin

Nikau Hindin recupera a prática tradicional Maori – desaparecida há mais de um século – de confecção de aute: tecido obtido a partir de um longo processamento da casca da amoreira. As operações de Hindin se desdobram na transmissão dessa prática em ações coletivas, de modo que todo o sistema de conhecimento e a cosmovisão envolvidos possam renascer e se restabelecer atualmente, como um trabalho de reconexão dos que estão aqui com seus ancestrais. 

Da criação e do uso de ferramentas típicas para produzir incisões na casca da amoreira e abri-la até os utensílios para bater e abrir a trama dessa pele de árvore, embebida em água, tornando a secá-la para depois banhá-la outra vez, a matéria-prima desse processo é feita de tempo, e é nele e por ele que se dá a transformação mágica da qualidade material da casca em tecido. 

Tanto a casca quanto essa matéria derivada da fibra vegetal são um invólucro, um tipo de pele. Os poetas sabem que casa e corpo partilham da mesma natureza. Que a árvore quando em pé nos faz sonhar altitudes do céu e que suas raízes nos levam às profundezas do ser. Quando deitada, facilmente o devaneio pode transformá-la em canoa. As imagens são ricas em proteção e em potencial deslocamento. 

O sistema gráfico elaborado com pigmentos à base de terra nas pinturas de Hindin fazem referência aos mapas estelares, método dos antigos Maori para observar os deslocamentos das estrelas no céu, como forma de orientação no espaço e no tempo, para navegar e viver. Linhas e setas produzem dinamismo em movimentos de subida e descida, representando a oscilação das estrelas, tomando o horizonte como ponto de referência. Sua pesquisa abrange um sistema de valores e nos convoca a realizar uma genealogia dos processos, uma genealogia da memória e o exercício do respeito aos ciclos e padrões da natureza, no balanço entre água e tempo. 

emanuel monteiro

Nikau Hindin (Tāmaki Makaurau/Auckland, Aotearoa/Nova Zelândia, 1991. Vive em Turanganui a Kiwa/Gisborne, Aotearoa/Nova Zelândia) é uma artista multidisciplinar com uma agenda revivalista para despertar/lembrar o processo de confecção do aute (tecido maori tapa). A missão de Hindin de reaprender essa prática foi influenciada pela revitalização da viagem, da navegação e de seu envolvimento com o waka haurua, canoas de migração maori.