35ª Bienal de São Paulo
6 set a 10 dez 2023
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São Paulo
6 set a 10 dez
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Vista da instalação de Nadir Bouchmouch e Soumeya Ait Ahmed na 35ª Bienal de São Paulo – coreografias do impossível © Levi Fanan / Fundação Bienal de São Paulo

Nadir Bouhmouch e Soumeya Ait Ahmed

Cada projeto de Soumeya Ait Ahmed e Nadir Bouhmouch é uma tentativa de esculpir espaços coletivos para criar e compartilhar “a partir de baixo”. Em sua opinião, a arte deve estar conectada às formas populares de cultura e aprender com os modos ancestrais de relação. A dupla não visa representar uma cultura “nacional”, tampouco busca a “universalidade”. Para os artistas, tais categorias servem apenas para homogeneizar a produção cultural. Ao contrário, eles evidenciam tradições locais e específicas, e se esforçam para fazê-las existir em uma escala maior por meio de formas de solidariedade que se estendem além das fronteiras nacionais. 

Esse modo de pensar tornou-se evidente durante a Documenta 15, no espaço de hospitalidade oferecido pelo Le 18, coletivo de Marrakesh do qual Bouhmouch e Ait Ahmed são integrantes destacados. É também um mecanismo essencial de seu projeto Awal, que investiga maneiras de documentar artes tradicionais orais e de decolonizar práticas contemporâneas nas regiões do Atlas e do sudeste do Marrocos. 

Amussu (2019), longa-metragem dirigido por Bouhmouch, retrata a resistência de uma comunidade rural contra a maior mina de prata da África, que se apropriou de sua água e a poluiu, destruindo oásis e amendoeiras. O filme destaca o cotidiano e os gestos dos aldeões e suas formas autóctones e criativas de organização política e construção de memórias (círculos de diálogo multigeracionais, poesia oral etc.). O processo de produção cinematográfica adotou esses mesmos mecanismos como referência: Bouhmouch colaborou ativamente com a comunidade de aldeões, que se tornaram os produtores do filme. 

O projeto de Bouhmouch e Ait Ahmed para a Bienal de São Paulo reúne os diversos formatos de seu trabalho (vídeo, publicações, performances, encontros) em torno de um desafio: a área da exposição deve aspirar a ser uma assays, ou seja, uma praça central na tradição Amazigh, um espaço de assembleia, como declaram em sua proposta para a exposição: “uma tecnologia na qual a oralidade produz mecanismos horizontais para a tomada de decisões populares, resolução de conflitos, criação artística, troca de conhecimento e produção agrícola – tudo de uma só vez”.

omar berrada
traduzido do inglês por mariana nacif mendes

1. Nadir Bouhmouch & Soumeya Ait Ahmed, texto do projeto submetido à 35a Bienal.

Soumeya Ait Ahmed (Casablanca, Marrocos, 1992. Vive em Marrakech, Marrocos) é trabalhadora da cultura e curadora do LE18, um espaço artístico multidisciplinar em Marrakech. Ela também é produtora independente e pesquisadora de arte cuja prática gira em torno do desenvolvimento de abordagens, ferramentas e métodos coletivos para traduzir a oralidade em outros meios artísticos, do cinema à arquitetura.

Nadir Bouhmouch (Casablanca, Marrocos, 1990. Vive em Marrakech, Marrocos) é um cineasta e artista multidisciplinar cujas obras incluem filmes, fotografias, contos e ensaios. Sua prática é orientada pelas expressões de sociedades rurais, ecologia e agricultura por meio da mediação de formas de arte popular. Suas obras experimentam uma linguagem cinematográfica inspirada nas tradições orais do norte da África. Bouhmouch também é cocurador do espaço artístico LE18 em Marrakech.

Ambos compartilham da crença de que a “oralitura” pode ser uma fonte potente de estéticas e narrativas únicas que rompem com aquelas herdadas dos antigos colonos. Ait Ahmed e Bouhmouch também são cofundadores do AWAL, um projeto de arte e pesquisa dedicado às artes orais populares no Marrocos.