35ª Bienal de São Paulo
6 set a 10 dez 2023
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Vista da obra Tongues Untied [Línguas desatadas] de Marlon Riggs durante a 35ª Bienal de São Paulo – coreografias do impossível © Levi Fanan / Fundação Bienal de São Paulo

Marlon Riggs

Desde que passou por uma revaloração por meio do trabalho de pesquisadores, curadores e distribuidores,1 os filmes de Marlon Riggs (1957-1994) têm sido frequentemente reverenciados pelo conteúdo e pelo potencial de identificação que geram. Proponho, contudo, que destaquemos sua obra como integrante de uma história das formas nas artes, em especial no cinema. 

O cinema de Riggs é da ordem do antissilêncio e, como tal, promove a valorização do expressar-se. Voz e ritmo constituem as principais estratégias formais de sua obra. Não representa um acaso que a poesia, com suas infinitas possibilidades de arranjos sonoros e elípticos, representa um traço inconfundível de seus filmes. 

Tongues Untied [Línguas desatadas] (1989) inaugura a fase mais inventiva da carreira de Riggs e reúne os traços estilísticos que costumamos associar à sua obra. Como muitos de seus filmes subsequentes, Tongues Untied transita do radicalmente pessoal – avizinhando-se, assim, de um confessionário – ao indubitavelmente coletivo – enamorando-se, portanto, da polifonia. 

Falar de Riggs é também reconhecer que o paradigma da política dos autores na análise fílmica – ou seja, atribuir o que emana da mise en scène quase exclusivamente ao diretor – impõe limites. Para melhor compreendê-lo, seria útil observá-lo como um criador em interlocução com uma coletividade de indivíduos artisticamente brilhantes e intelectualmente rigorosos: ativistas negros-gays, intelectuais do feminismo negro e poetas, como Essex Hemphill. 

As realizações de Riggs empenharam-se para que homens negros-gays tanto fizessem parte da experiência negra como da americanidade. Investidos de uma reconciliação de identidades, seus filmes buscaram o acerto de contas rumo a uma redenção possível junto a três identidades estruturantes: negro, estadunidense e gay. Em Tongues Untied, Riggs postula essa reconciliação assertiva como projeto estético e político. 

heitor augusto

Marlon Riggs (Fort Worth, TX, EUA, 1957 – Oakland, CA, EUA, 1994) foi cineasta, ativista e professor universitário. Entre seus filmes mais conhecidos está Tongues Untied (1989). Destacam-se ainda Ethnic Notions (1987) e Color Adjustment (1991), que investigam as representações racistas presentes na cultura dos EUA e Black Is… Black Ain’t, finalizado após sua morte.

1. entre eles, destaco Bruno F. Duarte, Cornelius Moore, Louis Massiah e Rhea L. Combs, além de meu trabalho como curador e professor.