35ª Bienal de São Paulo
6 set a 10 dez 2023
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São Paulo
6 set a 10 dez
2023
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Vista de obra de Manuel Chavajay durante a 35ª Bienal de São Paulo – coreografias do impossível © Levi Fanan / Fundação Bienal de São Paulo

Manuel Chavajay

Atitlán é o lago que banha as margens de diversos vilarejos no departamento de Sololá, na Guatemala. Protegido por três gigantescos vulcões, ele é o produto de uma erupção ocorrida há 84 mil anos. Em suas margens, habitam descendentes dos grupos Caqchiquel e Tzutuhil. Manuel Chavajay, nascido na cidade guatemalteca San Pedro la Laguna, é um desses descendentes. 

Como uma extensão desse lugar surpreendente, seu trabalho o explora como um local sagrado, onde sua existência acontece e é tecida com o conhecimento de seus ancestrais. Para os habitantes, Atitlán é um epicentro do turismo e um lugar que contribuiu com a ideia do que constitui o repertório nacional. Mas, para Chavajay, as forças vinculantes que surgem da experiência de pertencer a esse lugar são superiores a qualquer clichê. Em sua performance em vídeo Oq Ximtali (2017/2023), pode-se observar isso. Esse projeto é o registro de uma ação comunitária, surgida da preocupação do artista com esse local e do convite a um grupo de pescadores para que amarrassem seus barcos tradicionais − conhecidos como cayucos − enquanto remavam nas águas translúcidas do lago. A imagem, registrada por um drone, é um círculo quase perfeito dos vinte barcos que carregam vários recursos e objetos simbólicos. As embarcações fluem com as correntezas da água ou exercem forças opostas. No final da ação, o artista sugeriu aos participantes que poderiam se desamarrar, movendo-se de acordo com sua vontade ou coordenando-se para retornar juntos à margem, o que gerou um momento de confusão. A expressão Oq Ximtali, na língua tzutuhil, significa “eles nos amarraram” ou “nós estamos amarrados”. Essa ação explora ou recupera a dinâmica da comunidade que está se desarticulando e desaparecendo em razão da interferência de culturas opostas. No trabalho de Chavajay, sempre se encontram reflexos de um intenso senso de dor histórica que se alterna ao senso de esperança; certo medo que surge com a resiliência; a força do trabalho na terra e na água funde-se ao grande senso de vulnerabilidade. Em uma poética excepcional, Oq Ximtali sugere esse sentimento recorrente de impossibilidade que se tornou uma característica proeminente do presente e que ameaça o equilíbrio das comunidades, das relações humanas e interespécies. 

rossina cazali
traduzido do espanhol por ana laura borro

Manuel Chavajay (San Pedro La Laguna, Guatemala, 1982. Vive em San Pedro La Laguna) é um artista maia-tz’utujil que tem buscado em sua prática construir imagens, ações e objetos que forneçam formas poéticas de denúncia e reivindicação de sua cultura. Sua história pessoal, como a de uma grande porcentagem dos habitantes da Guatemala, é marcada pela violência do conflito armado, do qual ele e sua família foram vítimas diretas. Como outros artistas indígenas de sua geração, Chavajay pensa a arte contemporânea como um espaço de cura. Seu trabalho faz referência à sabedoria das práticas e da espiritualidade ligadas à cosmovisão maia: uma profunda conexão com a natureza, a vida e a energia presentes nas coisas, refletindo um modo de pensar e uma maneira de viver que sobrevivem apesar das ameaças materiais e simbólicas do mundo globalizado. Nos últimos anos, seus trabalhos foram expostos em instituições e exposições como: Museum of Contemporary Art Santa Barbara (CA, EUA), Centre Pompidou (Paris, França), National Gallery of Canada (Ottawa, Canadá), Kunsthalle Wien (Viena, Áustria), Bienal SIART (La Paz, Bolívia), Bienal Internacional de Arte Contemporânea de Curitiba (Brasil) e La Bienal de Artes Visuales del Istmo Centroamericano (Guatemala, Nicaragua, Costa Rica, Panamá e El Salvador). Suas obras fazem parte de coleções de instituições como Museo Ortiz Gurdián (León, Nicarágua), Museo Nacional Centro de Arte Reina Sofía (Madri, Espanha), Banco Interamericano de Desenvolvimento (EUA), National Museum of Ottawa (Canadá), além de coleções particulares.