35ª Bienal de São Paulo
6 set a 10 dez 2023
Entrada gratuita
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35ª Bienal de
São Paulo
6 set a 10 dez
2023
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Vista da instalação Pulmão da mina , de Luana Vitra, durante a 35ª Bienal de São Paulo – coreografias do impossível © Levi Fanan / Fundação Bienal de São Paulo

Luana Vitra

A transmissão de histórias orais é uma das fontes da pesquisa de Luana Vitra. De origem mineira, cresceu ouvindo relatos de parentes que envolvem desde celebrações, saberes e tecnologias afro-diaspóricas, aos traumas do passado escravista da região de Ouro Preto, onde vive sua família. Assunto constante são as histórias que envolvem o legado de séculos de economias extrativistas que ainda promovem a degradação dos ecossistemas locais. Desses relatos, Vitra se recorda de ouvir sobre pessoas escravizadas que costumavam levar canários para o trabalho em minas de ouro. Pássaro de canto incessante e metabolismo acelerado, era utilizado como sentinela. Seus pulmões reagiam em instantes à presença de gases tóxicos emanados pela extração mineral, e seu silêncio era o alerta para que os mineiros abrissem caminhos para escapar daquelas galerias, evitando os perigos de uma intoxicação letal. 

A sobrevivência daquelas pessoas significava a morte das aves, evidenciando como o regime escravagista não devastou apenas vidas humanas, mas estendeu seu terror sobre outras espécies. 

A narrativa acima é o ponto de partida da obra de Luana Vitra para a 35ª Bienal de São Paulo. A instalação tem como elemento principal uma série de flechas-patuás preparadas para o desbloqueio de caminhos. Feitas de ferro, material paradigmático e de uso recorrente em seus trabalhos, elas atuam como condutores, apontando para lugares de prosperidade onde a “possibilidade prevalece”. Ao centro da instalação, nota-se que algumas delas estão agrupadas e posicionadas diagonalmente entre si. Para Vitra, essa composição cria um caminho que espacializa os significados e as possibilidades que cada agrupamento carrega. Somam-se à composição do trabalho, cuias de cobre, pássaros banhados em prata e cobre, metais de alto caráter condutivo e pó de anil, substância frequentemente utilizada para limpeza energética. 

thiago de paula souza

Luana Vitra (Contagem, MG, Brasil, 1995) nasceu e cresceu no estado de Minas Gerais, numa região conhecida por paisagens naturais monumentais e marcada de modo profundo pelas atividades industriais da mineração. Experimentou desde sempre, portanto, as diversas manifestações possíveis do ferro e da fuligem. Gestada entre a marcenaria — pelo lado do pai — e o manejo das palavras — pela parte da mãe —, sua prática parte de processos que reconhecem as qualidades físicas e os contornos sutis da matéria, e investigam a infusão psicoemocional das paisagens. A partir de composições realizadas com uma ampla gama de materiais, seus objetos e instalações reconfiguram símbolos universais e elaboram outros, especialmente investidos nas qualidades da matéria, evocando poesia, discutindo subjetividades e suscitando questionamentos políticos. Seus trabalhos já foram apresentados em espaços como MAM- Rio (Brasil), South London Gallery (Inglaterra), MASP (Brasil), Javett Up (Pretoria, África do Sul) e Framer Framed (Amsterdã, Holanda).