35ª Bienal de São Paulo
6 set a 10 dez 2023
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35ª Bienal de
São Paulo
6 set a 10 dez
2023
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Vista da instalação pink-blue [rosa-azul] de Kapwani Kiwanga durante a 35ª Bienal de São Paulo – coreografias do impossível © Levi Fanan / Fundação Bienal de São Paulo

Kapwani Kiwanga

O trabalho de Kapwani Kiwanga nos afeta através de sentimentos de confusão. essa afetação não é tanto um método, mas um caminho. por meio de vídeos, sons, performances y instalações, bem como de um estudo profundo, sua arte confunde os fundamentos rígidos do mundo moderno-colonial, sobretudo sua perversa lógica binária. ao abalar a rigidez dessas estruturas, como verdade/ficção, por exemplo, Kiwanga ativa não apenas um trabalho de destituição como descolonização, mas, sobretudo, nos convida a imaginar formas radicalmente outras de conceber y de nos implicar – para recuperar Denise Ferreira da Silva – com o Mundo que somos. um Mundo de permeios, atravessamentos y confusões. 

Para a 35ª Bienal, Kiwanga traz pink-blue [rosa-azul] (2017), concebida a partir de sua pesquisa sobre instituições totais – caso das instituições psiquiátricas y dos presídios – y o impacto da arquitetura e design punitivista sobre nossas carcaças, além da vigilância constante. a instalação traz à tona mecanismos que, na surdina, moldam, regulam y preveem as formas de sociabilidade. assim, a cor rosa, de modo especial a Baker Miller Pink, acalmaria instintos agressivos (reabilitação ou política de controle?), enquanto o azul (neon), dificultaria a localização das veias, inibindo usuários de drogas injetáveis (prevenção de danos ou aumento de riscos?). 

Diante desse trabalho y de seus desdobramentos, também podemos atravessar esse caminho de confusão, imaginação y implicação por meio do que nele há de embate contra o tempo colonial, marcado pela linearidade rígida entre passado, presente y futuro, dando lugar a uma complexidade técnica não mais eurocêntrica, através da disposição das cores (azul-rosa, branco) y das formas (entrada-saída, retilíneo-diagonal) em sentido contrário daquele utilizado para cercear y oprimir. talvez aí, quando nós fazemos a passagem rumo a rotas de fuga, inventamos uma nova dança da temporalidade. se nos deixamos desorientar pela passagem de pink-blue, numa confusão entre entrada y saída, podemos ainda sentir essa instalação como uma grande y estranha lupa, geométrica, diagonal y colorida, por meio da qual podemos vislumbrar (y fazer parte de) um tempo não linear, adentrando y inventando espaços não mais comandados pela lógica do cativeiro colonial. 

abigail campos leal

Kapwani Kiwanga (Hamilton, Ontario, Canadá, 1978) articula em seus trabalhos uma variedade de materiais e meios como escultura, instalação, fotografia, vídeo e performance. Recebeu o Zurich Art Prize (2012) e o Marcel Duchamp Prize (2020). Realizou individuais em espaços como New Museum (Nova York, EUA), State of Concept Athens (Grécia), Haus der Kunst (Munique, Alemanha), Kunsthaus Pasquart (Biel, Suíça), MIT List Visual Arts Center (Cambridge, MA, EUA), Logan Center for the Arts (Chicago, IL, EUA) e Jeu de Paume (Paris, França).