35ª Bienal de São Paulo
6 set a 10 dez 2023
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Vista de obra de Juan van der Hamen y Leon durante a 35ª Bienal de São Paulo – coreografias do impossível © Levi Fanan / Fundação Bienal de São Paulo

Juan van der Hamen y León

Entre 1625 e 1628, depois de ser absolvido pelo papa e pouco antes de embarcar em sua viagem de volta para a chamada Nova Espanha, Antonio de Erauso foi imortalizado por Juan van der Hamen y León (1596-1631) no Retrato de Doña Catalina de Erauso. La monja alferez [Retrato de Dona Catalina de Erauso. A freira alferes]. 

Erauso, também conhecido como “a freira alferes”, nasceu como mulher em 1592 e desafiou padrões de gênero no século 17. Até não muito tempo atrás, muitos estudiosos do período, provavelmente influenciados pela leitura da biografia de Erauso, consideravam a pintura como parte da tendência barroca de representar “o monstruoso “. Essa tendência, que deu origem a um gênero inteiro por si só, formou um amálgama no qual se incluíam tanto os corpos fora da norma quanto as identidades sem uma definição preestabelecida. 

No entanto, embora imagens desse tipo tenham sido particularmente abundantes no contexto espanhol na primeira metade do século 17, o Retrato de Doña Catalina de Erauso parece questioná-las com base em sua própria excepcionalidade. A particularidade da obra faz ainda mais sentido se considerarmos que a escrita a seu redor – aquela que estabelece uma clara dissonância entre imagem e texto, razão pela qual essa anomalia foi explicada – foi um acréscimo posterior. 

Ao espelhar as convenções de representação do “masculino” de sua época, a composição do personagem feita por Van der Hamen involuntariamente contraria o título póstumo da pintura. Vestindo trajes militares e sustentando um olhar firme, a imagem do alferes adere inequivocamente ao regime dominante de visualidade da era colonial, com todos os seus ditames de gênero, sexualidade, raça e classe. 

Essa constelação de interpretações, de apêndices visuais e discursivos, foi recuperada por Cabello/ Carceller. Na exposição Una voz para Erauso. Epílogo para un tiempo trans [Uma voz para Erauso. Epílogo para um tempo trans] (2021-2022), a obra mostra novamente seu caráter mutável e excepcional e, entre o passado e o presente, confirma a performatividade inerente a todo retrato, toda história e toda construção de identidade. 

beatriz martínez hijazo
traduzido do espanhol por ana laura borro

Juan van der Hamen y León (Madri, Espanha, 1596 – 1631) foi um pintor espanhol, mestre em pinturas de natureza morta. Ele pintou alegorias, paisagens e obras em grande escala para igrejas e conventos. Atualmente, ele é lembrado principalmente por suas naturezas-mortas, um gênero que popularizou na Madri de 1620, e pela pintura de Catalina de Erauso, também chamada de Freira Alferez.