35ª Bienal de São Paulo
6 set a 10 dez 2023
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São Paulo
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Vista de obras de José Guadalupe Posada durante a 35ª Bienal de São Paulo – coreografias do impossível © Levi Fanan / Fundação Bienal de São Paulo

José Guadalupe Posada

Brincar com a morte, de pega-pega, pique-esconde ou, para os mais cerebrais, uma partida de xadrez. Só para matar o tempo, nosso coveiro. Mas isso sem esquecer de levar os materiais necessários para eternizar o encontro: pedra, papel, tesoura, lápis, tintas, buril… No caso de José Guadalupe Posada (1852-1913), foi escolhido o instrumental da litografia, pois somente assim suas gravuras poderiam viralizar em impressões, reimpressões e reapropriações que se repetem diante dos olhos dos vivos. Um memento mori coral – trabalhos ecoando em latim a litania do “lembre-se de que você também vai morrer”. 

Posada pertence àquele reduzido grupo de artistas cujas obras são automaticamente reconhecíveis, mesmo que se ignore o nome de quem as assina. Suas célebres calaveras [esqueletos ou caveiras] retiram energia das páginas baratas às quais se destinavam e fazem parte da história morta-viva do México. A Gran calavera eléctrica (1907), a La calavera oaxaqueña (1900), a La calavera revolucionária (c. 1910) e, sobretudo, a La calavera Catrina (1910/1913) são memes de memento mori anteriores à rede mundial de computadores. A um só tempo, piada e reflexão filosófica, festa da morte e resistência cultural à colonização. Interessado em produzir na tradição do que se convencionou chamar de arte popular – categoria questionável e ambígua –, o alcance de Posada estendeu-se aos analfabetos (a maioria da população à época) e recrudesceu ao longo do século 20 em um contexto de valorização das culturas indígenas, pré-colombianas e contemporâneas. 

Ele produziu caricaturas e ilustrações para diversos periódicos em circulação durante o tumultuado final de século 19 até 1913, quando morreu no anonimato. Publicou em muitos jornais pró-classe trabalhadora, mas sua filiação aos ideais revolucionários não é ponto pacífico. No entanto, resta uma constante inegável em sua verve satírica: ridicularizar a burguesia que se nutre da exploração do povo. Fato presente nas linhas que vão da fase costumbrista às produções tardias, que culminam no chapelão sobre o esqueleto da socialite Catrina

igor de albuquerque

José Guadalupe Posada (Aguascalientes, México, 1852 – Cidade do México, México, 1913) foi pintor e caricaturista, famoso por suas litografias de cenas de morte, gravuras populares e caricaturas sociais inspiradas na cultura popular. Ele realizou trabalhos de impressão e publicidade, ilustrou livros e imprimiu cartazes, fez retratos de figuras históricas e imagens religiosas. A caricatura política era sua paixão. Ele registrava eventos extraordinários e a vida cotidiana, aos quais acrescentava notas humorísticas. O trabalho de Posada era voltado principalmente para a classe trabalhadora, destacando as desigualdades e o sofrimento do povo por meio da sátira e do humor. Suas ilustrações criticavam os excessos das classes políticas e retratavam o estilo de vida do trabalhador mexicano.