35ª Bienal de São Paulo
6 set a 10 dez 2023
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35ª Bienal de
São Paulo
6 set a 10 dez
2023
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Vista da instalação de Jorge Ribalta durante a 35ª Bienal de São Paulo – coreografias do impossível © Levi Fanan / Fundação Bienal de São Paulo

Jorge Ribalta

Faute d’argent [Falta de dinheiro] (2016-2020) é o terceiro e último episódio de uma investigação artística e histórica de Jorge Ribalta sobre o período final de Carlos V (1500-1558), rei da Espanha e imperador do Sacro Império Romano-Germânico. Sob seu reinado, a formação de uma ideia de nação correu paralelamente à conquista e à colonização das Índias Ocidentais, herdada na sua condição de neto dos monarcas católicos. A abordagem é dupla: a manifestação de Carlos V como chave interpretativa do mundo ocidental na era da grande recessão econômica que começou em 2007 e um exercício de revisão e luto do passado colonial espanhol/imperial, resultando em uma coreografia crítica de retorno. 

A série se baseia na “ideia documental”, que atravessa todo o trabalho de Ribalta, seja como fotógrafo, teórico-pesquisador ou curador, pois ele argumenta que a fotografia contribui para explicar a complexidade social – as relações de classe e seus conflitos, bem como a relação das subjetividades com a história – e não apenas para representá-la. Em Faute d’argent, Ribalta questiona tanto a história da nação espanhola quanto a lógica imperial-financeira do capitalismo desde o início da Idade Moderna na Europa, que transborda em uma colonialidade do poder. Seu título resume a relação dialética entre o imperador em declínio e seus banqueiros, a saga dos Fugger, ou seja, entre a necessidade e o endividamento que garantiu o status imperial no século 16, em detrimento de Castilla, a nação, e das Índias, transformadas em meros instrumentos de uma política colonial extrativista. Sem metáforas, o episódio é uma tragicomédia composta por 76 fotografias – ritmadas por notas e citações nas margens – que rastreia os nomes e a geografia sobre os quais o Império Habsburgo e a nação espanhola foram construídos, a fim de submetê-los a uma crítica contra a corrente dos desconfortos herdados. Assim, a fotografia atua como um contradiscurso na revisão de um dos mitos fundadores do Império Espanhol e é um instrumento para questionar a modernidade europeia a partir da perspectiva da colonialidade na América. Nesse sentido, a série busca o espectro desses banqueiros hoje no eixo geográfico Augsburgo – Sevilha – México, em suas ruas, capelas e igrejas, museus, bibliotecas, minas e oficinas, que são uma transcrição do ouro, da prata e do chocolate transformados em moedas, lingotes e grãos. 

rocío robles tardío
traduzido do espanhol por ana laura borro

Jorge Ribalta (Barcelona, Espanha, 1963. Vive em Barcelona) trabalha no campo da fotografia. Inicialmente interessado em explorar o naturalismo fotográfico, mais tarde ele se voltou para uma releitura do gênero documental. Usando o analógico e o preto e branco, ele trabalha em projetos de grande escala que traçam as paisagens em transformação, urbanas, rurais e pós-industriais, do capitalismo tardio. Ribalta analisa artefatos culturais e as relações entre fotografia e estruturas institucionais, com trabalhos situados entre a arte, a política, a economia e a história. Desde os anos 1980, ele combina sua prática fotográfica com práticas curatoriais e críticas de arte.

Esta participação é apoiada por Acción Cultural Española (AC/E) e realizada em parceria com o Institut Ramon Llull.