35ª Bienal de São Paulo
6 set a 10 dez 2023
Entrada gratuita
A+
A-
35ª Bienal de
São Paulo
6 set a 10 dez
2023
Menu
Vista da obra Baptism[Batismo], de Januário Jano, durante a 35ª Bienal de São Paulo – coreografias do impossível © Levi Fanan / Fundação Bienal de São Paulo

Januário Jano

Na instalação Baptism [Batismo] (2019), observamos um conjunto de vinte fotografias que mostram Januário Jano despindo-se de uma roupa branca. A imagem do todo chama a atenção pela exuberância. No entanto, na pesquisa dos materiais, qualquer contemplação desinteressada é dissolvida: as roupas brancas são memórias das imposições civilizatórias dos colonizadores portugueses aos angolanos. O tecido, 100% algodão, faz referência aos campos da Baixa do Cassange, onde em 1961 houve o massacre que insuflou a luta pela libertação de Angola. Tal dimensão da violência – sobretudo da resposta a ela – emerge de uma artesania que entende a pesquisa não como uma etapa para se chegar num produto, mas, sim, como a matéria viva à qual o olhar precisa retornar constantemente quando se dispõe a propor outros mundos. 

Vídeo, escultura, pintura, fotografia, instalação, costura, ou arte interdisciplinar, se quiserem. É vasto o repertório de linguagens que Jano aciona para pôr em prática suas ideias, assim como é vasto e perturbador o alcance das forças subjacentes a todo fazer artístico como consequência da história e da cultura. São muitas as mídias, as camadas e os temas em fricção quando se consideram as complexidades do campo das identidades culturais, terreno no qual ele atua para instigar o debate. Desde Luanda, em português, mas também desde a terra dos Ambundu, em Kimbundu – língua Bantu –, ou em inglês desde Londres, onde se formou e se estabeleceu. Os próprios trânsitos biográficos do artista evidenciam as marcas da colonização, tema central em seu trabalho; também por isso, é diante de si mesmo – do espelho, de sua história –, que Jano encontra a matéria-prima que ocasionalmente lhe escapa à própria vida e acaba ecoando nas palavras de uma conterrânea sua: “sobreviver à nossa história é parecido com sobreviver numa cidade implacável” – disse Djaimilia Pereira de Almeida, como poderia ter dito ele.1 

igor de albuquerque

1. Djaimilia Pereira de Almeida, “Morrer de Nostalgia” in Revista Quatro cinco um, São Paulo, jun. 2023, p. 8.

Januário Jano (Luanda, Angola, 1979. Vive entre Luanda e Lisboa, Portugal) é um artista visual multidisciplinar com interesse em escultura, têxteis e artes cênicas, vídeo e fotografia. Jano fundou o Coletivo Cultural Pés Descalços e organiza o TEDxLuanda desde 2012. Para produzir seu trabalho, Jano utiliza têxteis, panos e outros materiais para exibir ideias como tópicos do cotidiano, economia e política. Alguns de seus outros interesses incluem as relações entre ficção e realidade e a coexistência humana e não humana. Ele foi premiado com o LAGUNA ART PRIZE e recentemente foi indicado para o Norval Sovereign African Art Prize. Seu trabalho pode ser encontrado em coleções proeminentes, como Victoria and Albert Museum (Londres, Inglaterra), The Marino Golinelli Collection (Itália), Taguchi Art Collection (Japão), Damian Grieder Collection (Suíça), Banco Económico de Angola, Coleção do Banco de Fomento de Angola e Arquivo Nacional Português.