35ª Bienal de São Paulo
6 set a 10 dez 2023
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35ª Bienal de
São Paulo
6 set a 10 dez
2023
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Vista de obra de Inaicyra Falcão durante a 35ª Bienal de São Paulo – coreografias do impossível © Levi Fanan / Fundação Bienal de São Paulo

Inaicyra Falcão

Saiba mais sobre o projeto de Inaicyra Falcão para a 35ª Bienal aqui.

O ser histórico e artístico de Inaicyra Falcão poderia constituir a transgressão de conceitos, como erudito, lírico ou do que é aceito como possível. Sua ancestralidade, como motor e inspiração, e as coreografias do seu mundo, amplo, transnacional e diaspórico, rompem com a rigidez da academia e da arte. Da voz poética, poderiam surgir outros sons, mas o que brota é um canto ancestral. Solto e liberto, seu corpo exala memórias de movimentos antigos e refinados, repetidos milenarmente no cotidiano humano e das divindades sagradas, o que se pode ainda observar hoje, quando estão na Terra. 

Como mostra a arte de Inaicyra, o impossível acontece quando a potência do corpo, da explosão física provocada pela necessidade de movimento, se encontra presente até mesmo nas divindades sagradas. Por isso, para a artista, todo corpo é dotado de memórias, inscrições ancestrais, que se revelam na consciência corporal forjada na tradição. Esse movimento é cultural, memória coletiva, mas, sobretudo, resulta de nossas histórias pessoais e de atravessamentos que habitam os corpos de pessoas negras da diáspora. A liberdade pessoal, portanto, depende desse corpo estar em movimento. 

Dessa perspectiva, a educação seria mais um caminho de autonomia, mas, nesse ponto, por meio da dança. A valorização de cada história individual, o abraçar das memórias conscientes ou adormecidas, fariam parte dessa aprendizagem, que percorre um caminho contrário ao do saber das repetições, do que é considerado harmônico ou erudito. Assim, esse foi o caminho encontrado por Inaicyra para trazer a herança africana para os currículos. 

Longe de significar estar presa a um passado estanque, sua percepção de mundo e da arte revela mudança, dinamismo e constante transformação de movimentos e cantos ancestrais. Assim, Inaicyra Falcão se autodefine uma “articuladora de universos”, de mundos multidimensionais, que ela faz se conectarem ao corpo e à voz. 

luciana brito

Inaicyra Falcão (Salvador, BA, Brasil. Vive em Salvador) é cantora lírica, educadora e pesquisadora comprometida com a difusão da cultura africana e afro-brasileira. A possibilidade de identificação do sagrado no cotidiano e do cotidiano no sagrado, a reafirmação da história pessoal na vivência da tradição e a reelaboração dessa tradição de origem na sociedade contemporânea são elementos constituintes da pedagogia transcendental em arte-educação proposta por ela. Sua principal obra é Corpo e ancestralidade: uma proposta pluricultural de dança-arte-educação (2021). Seu trabalho artístico inclui o álbum Okan Awa: Cânticos da tradição Iorubá e sementes ancestrais (2002), além de publicações e performances que contribuem para o entendimento da obra do artista cênico, orgânico e plural, o qual ancora-se na dinâmica de uma cultura tradicional e contemporânea.