35ª Bienal de São Paulo
6 set a 10 dez 2023
Entrada gratuita
A+
A-
35ª Bienal de
São Paulo
6 set a 10 dez
2023
Menu
Vista da instalação Parliament of Ghosts de Ibrahim Mahama durante a 35ª Bienal de São Paulo – coreografias do impossível © Levi Fanan / Fundação Bienal de São Paulo

Ibrahim Mahama

O trabalho dos alquimistas tem sido muitas vezes rotulado como “magia negra”, uma vez que o termo latino nigredo (em português escuridão, negrura, negridão) constitui o primeiro passo do processo alquímico e significa putrefação ou decomposição. Assim, as expressões magia negra e negritude assumem implicações niilistas. 

No entanto, os processos alquímicos da obra negra e da negritude de Ibrahim Mahama, artista nascido em Gana, abordam o possibilismo e a transmutação da colonialidade. Seja a plantação colonial, seja o salão do parlamento, a ferrovia ou outros elementos do espólio colonialista, os cercos erguidos pela colonialidade são sistemáticos e interligados. 

Assim, o trabalho de Mahama vislumbra possibilidades nas condições materiais desses recintos e nas habilidades de contar histórias e conectar momentos no tempo ao longo de um arco amplamente estendido: do colonialismo à globalização. Esses momentos entrecruzam-se com questões do trabalho, do extrativismo, da produção, da exploração e da justiça. Os materiais que compõem sua prática são os extraordinários objetos probatórios que revelam sistemas de crise ou de fracasso. No entanto, as transmutações produzidas pelo artista geram condições poéticas de assemblagem, montagem e coletividade. 

Em sua instalação Non-Orientable Nkansa II [Nkansa não orientável II] (2017), Mahama, com vários colaboradores, produziu centenas de “caixas de sapateiro” de madeira, utilizando materiais de sucata encontrados nas cidades de Kumasi e Acra, em Gana, usados para polir e consertar sapatos. Essas caixas continham os utensílios dos engraxates, jovens empobrecidos que, para sobreviver, percorrem a cidade diariamente polindo ou limpando sapatos. Mahama reúne e empilha essas centenas de caixas em uma parede de dimensões monumentais, em que cada caixa parece precária, ainda que impossivelmente mantida no lugar. 

Parliament of Ghosts [Parlamento de fantasmas] (2019) é um conjunto de objetos descartados e perdidos, reunidos para formar o cenário de uma sala parlamentar e relembrar a história da empresa ferroviária de Gana, a Ghana Railway Company. Os objetos presentes nessa obra remetem à história da produção e à crise da industrialização nos territórios coloniais. Entre esses objetos estão assentos de poltronas de vagões de trens abandonados, dormentes de ferroviários que foram desinstalados, documentos governamentais, ferramentas e utensílios de uma oficina de locomotivas, mapas, diários, livros e mobiliário de arquivo. 

Em seu último trabalho, Mahama cria um espaço de montagem que dialoga com a obra anterior, Parliament of Ghosts, se transmutando para configurar um local de trabalho coletivo negro, produção cultural e discurso ao longo da 35ª Bienal de São Paulo. Esse espaço reproduz as arquibancadas feitas de tijolos vermelhos do salão de seu estúdio RED CLAY [Argila vermelha], em Tamale, Gana. Na instalação, também há um conjunto de vasos típicos de Gana e trilhos de ferrovias, remetendo à geografia do norte de seu país, onde seu estúdio se localiza. 

mario gooden

Ibrahim Mahama (Tamale, Gana, 1987. Vive em Tamale) é mais conhecido por suas instalações esculturais que envolvem sacos de juta sobre estruturas arquitetônicas como o Teatro Nacional em Accra (Gana) ou o Arsenale na Bienal de Veneza de 2015 (Itália). Ele trabalha com materiais que contam uma história de economia e comércio global, áreas cruciais de investigação para o artista. Nos últimos anos, Mahama estabeleceu três instituições culturais em Tamale, Gana: o Savannah Centre for Contemporary Art (SCCA), o Red Clay Studio e o Nkrumah Volini, que examina questões relacionadas à transformação da arte de um estado de mercadoria para um presente.