35ª Bienal de São Paulo
6 set a 10 dez 2023
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35ª Bienal de
São Paulo
6 set a 10 dez
2023
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Vista de obras de Guadalupe Maravilla durante a 35ª Bienal de São Paulo – coreografias do impossível © Levi Fanan / Fundação Bienal de São Paulo

Guadalupe Maravilla

Na atualidade, uma das narrativas da América Latina é a da problemática das migrações. A mais conhecida, sem dúvida, é a do México, como um país de migrantes que se deslocam sem documentação e dos encontros e dos mal-entendidos na travessia da fronteira com os Estados Unidos. Como contrapeso, Guadalupe Maravilla conduz nosso olhar para um sul mais profundo e desconhecido, o chamado Triângulo Norte da América Central, formado por Guatemala, Honduras e seu país de origem, El Salvador. Na década de 1980, quando El Salvador se encontrava no auge das guerras de contrainsurgência da região, o trânsito forçado de pessoas que fugiam da violência e buscavam refúgio era particularmente extremo. Maravilla foi uma das muitas crianças que fizeram a viagem para a fronteira sem docuguadalupe maravilla mentos e sem estar acompanhadas dos pais. Hoje, o artista revisita essa experiência para desenvolver uma abordagem conceitual que alude às somatizações − no sentido mais amplo do termo − do que ele viu e vivenciou nessa travessia. Como uma extraordinária caixa de ressonância, os projetos de Maravilla contam sua história, mas narram também as histórias de milhares de pessoas que foram marcadas por essa vasta cicatriz chamada fronteira. 

Como resultado, suas propostas artísticas são performances e colaborações multitudinárias, cenografias sobrecarregadas de gestos, objetos e mecanismos que são instalados como retábulos. Em muitas delas encontramos traços do jogo infantil tradicional conhecido em El Salvador como Tripa Chuca, que resulta da união de números com linhas, bem como desenhos retirados de códices e tecidos antigos estampados com histórias pictográficas que remetem a comunidades pré-colombianas e sua participação na conquista, suas redes de conhecimento, fluxos comerciais e recursos. O conjunto resulta em um mapa de deslocamentos, miscigenação, entrecruzamentos, perseverança e formas de sobrevivência histórica. 

No centro dessa jornada épica, Maravilla dispõe esculturas em grande escala intituladas Disease Throwers [Lançadores de enfermidades] (2019-em curso). Essas formas estranhas, que têm características orgânicas, são montadas com materiais moldáveis e instrumentos musicais que, com uma vibração específica, geram espaços terapêuticos que convidam à resiliência. As “máquinas de cura” do artista sugerem a abertura de portais para o ancestral e a realização de uma cerimônia sonora que, nesta edição da Bienal, é a possibilidade de celebrar um ritual coletivo para curar traumas e condições do corpo. 

rossina cazali
traduzido do espanhol por ana laura borro

Guadalupe Maravilla (San Salvador, El Salvador, 1976. Vive em Nova York, EUA) é artista transdisciplinar, coreógrafo, professor e curandeiro. Ele fundamenta suas esculturas, desenhos, performances, vídeos e instalações em noções de ativismo e cura, baseadas em sua história pessoal de migração, câncer e recuperação. Suas esculturas em larga-escala, chamadas pelo artista de Disease Throwers, funcionam como ornamentos, instrumentos e templos através da incorporação de elementos coletados pela América Central, modelos anatômicos e instrumentos musicais. Seus trabalhos estão nas coleções permanentes de instituições como o MoMA, Whitney Museum of American Art, El Museo del Barrio (Nova York, EUA), Museo Nacional Centro de Arte Reina Sofía (Madri, Espanha) e Institute of Contemporary Art (Miami, EUA). Foi premiado com as bolsas Joan Mitchell Fellowship (2021), LatinX Fellowship (2021), Guggenheim Foundation Fellowship (2019) e Art Matters Grant (2013).

Esta participação é apoiada por Y.ES Contemporary.