35ª Bienal de São Paulo
6 set a 10 dez 2023
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35ª Bienal de
São Paulo
6 set a 10 dez
2023
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Vista de obra de Geraldine Javier durante a 35ª Bienal de São Paulo – coreografias do impossível © Levi Fanan / Fundação Bienal de São Paulo

Geraldine Javier

Geraldine Javier vive e trabalha na turbulência de uma crise climática em que culpa e extinção andam de mãos dadas. Em suas obras, as reações em geral pessimistas e nostálgicas a uma economia necroespeculativa são abertamente confrontadas com instalações e pinturas que apresentam um mundo automutante de plantas não mais reconhecíveis. Em Oblivious to Oblivion [Alheios ao esquecimento] (2017), instalação de grande escala que forma uma ampla nuvem suspensa, as imagens entrelaçadas de vegetais improváveis são penduradas em meio a espelhos. Os reflexos fugazes dos espectadores nesses espelhos insistem em mostrar uma humanidade indiferenciada, desafiando seu antagonismo – profundamente enraizado – com o mundo natural. 

Os efeitos visuais resultantes de suas livres composições flutuantes remetem a arranjos cósmicos que se adequam perfeitamente à composição all over [que recobre toda a superfície pictórica], típica da pintura moderna. Convidam, assim, a uma experiência imersiva, coerente com a recusa a um engajamento político direto. Como afirmam os títulos de suas obras mais recentes, Javier posiciona-se em meio a incertezas. Oscilando entre esperança e desespero, sua obra apoia -se em um horizonte de reparações. Ainda que tenha se definido como uma artista que não aborda temas políticos, a impressão geral de seus trabalhos é de uma prática afirmativa, que evita o lamento e a queixa. 

Diante de processos de degradação, poluição e extinção, The Creatures in Search of Their Species [As criaturas à procura de suas espécies] (2012) afirmam-se como uma matriz de seres transformadores. Em vez de apresentarem um mundo morto, fixo e perdido − caso do pensamento catastrófico e retrospectivo −, essas obras trazem à luz a gramática para o enfrentamento de um futuro regenerativo. Ao destino de destruição Javier contrapõe uma política do cuidado, que não tem similaridade com as formas políticas do passado. Enquanto suas pinturas derivam de uma prática individual, suas instalações envolvem uma atividade comunal que revela sensibilidade singulares no tratamento dos materiais, expressão da interdependência de formas de vida e cooperação intergeracional. 

carles guerra
traduzido do inglês por gabriel bogossian

Geraldine Javier (Makati, Filipinas, 1970. Vive ao sul de Manila, Filipinas) é uma artista visual conhecida por seu trabalho que mescla pinturas e uma variedade de técnicas e materiais. Até 2022, ela realizou 33 exposições individuais nas Filipinas, no Sudeste Asiático, na Coreia do Sul, na China e na Alemanha. Suas exposições frequentemente combinam pinturas e instalações, fazendo uso de tecidos e objetos orgânicos. Como uma jardineira dedicada, seu trabalho lida cada vez mais com nossa relação com a natureza, e as instalações são orientadas para a comunidade.