Frente 3 de Fevereiro
O Brasil pode ser entendido, do ponto de vista da negridade, como um projeto anti-negro. por outro lado, podemos entender a negridade como a prática teimosa y incansável de tentar viver quando não era pra você ter sobrevivido. Zumbi dos Palmares, constantemente retomado no trabalho artístico radical da Frente 3 de Fevereiro, sobretudo em Zumbi somos nós, aparece aqui, então, como o mistério que une essas duas formulações, colocando em xeque o Mundo que as produziu. essas duas formulações cruzam com a história da Frente, que surge como uma forma de fazer vingar a morte-vida de Flávio Ferreira Sant’Ana, jovem dentista negro assassinado cruelmente por policiais militares de São Paulo em 2004.
Por meio de uma prática que faz cruzar ação direta y estética, transitando entre imagem, música, performance, literatura y uma infinidade de formas, a Frente 3 de Fevereiro elabora práticas artísticas radicais de intervenção social como forma não apenas de denunciar a situação brutal vivida pelas pessoas negras no Brasil, mas de promover a sua imprevisível força de criação y transmutação. para as coreografias do impossível, utilizando tecnologias de voice cloning y deep fake contra seus próprios fins, o coletivo cria um complexo ambiente sônico-imagético, reanimando os movimentos, gestos y sons de Dona Marinete Lima (1942-2018), integrante do coletivo y matriarca ancestral. além dessa animação, a videoinstalação conta com arquivos de som y imagens do coletivo, registros de suas intervenções radicais que tanto denunciam o plano de morte quanto maquinam o combinado da vida.
A experiência dessa videoinstalação encruzilha passado-presente, vida-morte, revolta-alegria, como um feitiço tecnológico para fazer vingar a vida preta em sua ingovernável performance de ressurreição infinita.
abigail campos leal
Frente 3 de Fevereiro é um grupo transdisciplinar de pesquisa sobre o racismo brasileiro ativo desde 2004. Entre suas ações diretas destaca-se Bandeiras (2005-2006), realizada durante partidas de futebol com as frases como “Onde estão os negros?”, que retornam em outras intervenções do coletivo, como a do cartaz que integra o acervo do MASP (São Paulo, Brasil).