35ª Bienal de São Paulo
6 set a 10 dez 2023
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São Paulo
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Vista de obra de Francisco Toledo durante a 35ª Bienal de São Paulo – coreografias do impossível © Levi Fanan / Fundação Bienal de São Paulo

Francisco Toledo

Conhecido por seus trabalhos feitos em papel, especialmente gravuras e pinturas, Francisco Toledo (1940- 2019) navegou por diversas linguagens, como colagem, tapeçaria e cerâmica, sempre mantendo um único olhar: a construção de uma prática artística implicada com as heranças culturais, tradições e políticas de sua comunidade (Oaxaca, no México). Nesse amplo percurso, Toledo, que também era conhecido como El Maestro – o mestre e professor – investiu intensamente na construção de projetos dedicados à educação e à manutenção das práticas culturais no México, como o Museu de Arte Contemporânea e o Instituto de Artes Gráficas de Oaxaca. 

A obra de Toledo alimenta-se do que o artista experimenta em livros de viagem e em memórias da infância, mas, sobretudo, no que ele observa em seu meio. As cosmologias zapotecas de Juchitán, o legado cultural pré-hispânico e o dinamismo e as atualizações dos costumes tradicionais são algumas, entre muitas, bússolas que guiam a prática de um artista que passou boa parte de sua vida-obra empinando papalotes (pipas) como forma de ação política. 

Um dos marcos de sua expressão e de seu engajamento social surge  em Papalotes de los desaparecidos [Pipas dos desaparecidos] (2014) – projeto exposto na 35a Bienal de São Paulo. Nesse trabalho, as pipas criadas com a colaboração dos frequentadores da Oficina de Arte e Papel de San Agustín Etla tiveram o desejo de se agregarem aos muitos protestos instaurados no México, desde 2014, quando um grupo de 43 estudantes secundaristas, em sua maioria indígenas, da escola Normal Rural Raúl Isidro Burgos, com sede em Ayotzinapa, foram sequestrados pela polícia municipal de Iguala, Guerrero. 

Quando chega o Dia dos Mortos, soltam-se pipas porque se acredita que as almas descem pelo fio e chegam a terra para se alimentar das oferendas; então, no final da festa, eles voam novamente. Como já haviam procurado os alunos de Ayotzinapa no subsolo e na água, mandamos as pipas procurá-los no céu.

Desde 2014, além das muitas vozes que se reuniram deflagrando uma das grandes feridas do México, os rostos dos normalistas seguem percorrendo diversos contextos, desejando romper o silêncio instaurado pelas instituições governamentais. Até hoje as famílias dos jovens desaparecidos procuram construir sentidos de justiça, assim como os cortes produzidos no vento pelas pipas de Toledo. 

tarcisio almeida

Francisco Benjamín López Toledo (Juchitán de Zaragoza, México, 1940 – Oaxaca, México, 2019) foi artista, promotor cultural, ativista e defensor dos direitos humanos e das línguas indígenas. Criou uma vasta obra que combinava cores vibrantes, formas únicas e texturas, inspiradas na mitologia e magia mexicana. Toledo foi o fundador de várias instituições e projetos influentes, incluindo o Museu de Arte Contemporânea de Oaxaca (MACO), Casa de Cultura em Juchitán e o Instituto de Artes Gráficas de Oaxaca (IAGO). Ele recebeu o Prêmio Nacional de Ciências e Artes na categoria de Belas Artes e é celebrado como uma das figuras criativas mais importantes do México.

1. Depoimento do artista veiculado em diversos canais que cobriram as ações-protesto realizadas por Francisco Toledo desde novembro de 2014, quando passou a ativar a obra Papalotes de los desaparecidos (2014).