35ª Bienal de São Paulo
6 set a 10 dez 2023
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35ª Bienal de
São Paulo
6 set a 10 dez
2023
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Vista de Highway Gothic, de Edgar Cleijne e Ellen Gallagher, durante a 35ª Bienal de São Paulo – coreografias do impossível © Levi Fanan / Fundação Bienal de São Paulo

Edgar Cleijne e Ellen Gallagher

Vivemos o Antropoceno − no senso comum, período compreendido como uma nova era geológica sobredeterminada pela ação humana. Mas torna-se necessário refletir sobre esse conceito, que é incerto e não designa apenas um momento geológico nem se refere ao humano genérico. Assim, é fundamental reconhecer as estruturas da supremacia masculina branca como parte das transformações predatórias e aceleradas da geobiosfera, contestar sua essência, que mantém a figura humana no centro da cena em detrimento das relações interespécies. Assim, é essencial vivenciar as obras de Ellen Gallagher e Edgar Cleijne que, em meio às violências raciais e ambientais, fazem cruzar ficções e realidades com pântanos, oceanos e ícones e símbolos racializados, levando à construção de outras paisagens políticas e poéticas para perceber e narrar o mundo multiespécies. 

Pois é na água e no mar que Ellen Gallagher e Edgar Cleijne se ancoram. A artista nasceu em Rhode Island, Estados Unidos, e vive entre o Brooklyn, Nova York, e Roterdã, Holanda − cidades com um papel relevante no comércio transatlântico de escravizados. Desde 2024, ela divide o trabalho com o holandês Cleijne. Juntes, assinam a instalação multimídia Highway Gothic (2017), seguida dos trabalhos pictóricos de Gallagher Watery Ecstatic [Êxtase aquoso] (2007, 2017 e 2021), Morphia (2008 e 2012) e Ecstatic Draught of Fishes [O caldo extasiante dos peixes] (2019 e 2021). Essas obras tensionam questões acerca do legado do colonialismo, dos impactos ecológicos, dos deslocamentos negros e dos paradigmas da arte eurocêntrica em um processo que envolve o afrofabular1 e o afrofuturismo combinados a pinturas, cianotipias, instalações fílmicas e sonoras (a música é mnemônica e contracultural) e obras teóricas da diáspora africana, como o Atlântico negro, do escritor Paul Gilroy.2 Por meio de estéticas aquáticas, Gallagher e Cleijne propõem uma imersão nas profundezas dos oceanos em um diálogo com as criaturas marinhas, biomórficas, histórias/estórias e mitos que habitam essas profundezas. É importante salientar que, como um lugar de esquecimento, o mar traz consigo apagamentos que expressam narrativas coloniais expansionistas. Desse modo, em suas obras, em devir, es artistes imaginam a vida após a morte do tráfico atlântico. 

barbara copque 

1. Esse é um termo-conceito trabalhado por autores como Saidiya Hartman e Tavia Nyong’o.
2. Paul Gilroy, O Atlântico negro: modernidade e dupla consciência. Tradução Cid Knipel Moreira 2. ed. São Paulo; Rio de Janeiro: 34; Universidade Cândido Mendes – Centro de Estudos Afro-Asiáticos, 2012.

Edgar Cleijne (Eindhoven, Holanda, 1963. Vive entre Rotterdam, Holanda, e Nova York, EUA) trabalha com fotografia, filme e instalações nas quais espaço, imagem e som se entrelaçam. Participou de bienais como a 14ª Bienal de Istambul (Turquia), Whitney Biennial 2010 (Nova York, EUA) e Brussels Biennial 1 (Bélgica). Participou de exposições em instituições como o Centro Botín (Santander, Espanha), The Edge (Bath, Inglaterra), WIELS (Bruxelas, Bélgica) e Contemporary Arts Center (Cincinnati, OH, EUA), Van Abbemuseum (Eindhoven, Holanda). Seu trabalho está presente nas coleções do Whitney Museum of American Art (Nova York, EUA) e do Tate Modern (Londres, Inglaterra).

Ellen Gallagher (Providence, RI, EUA, 1965. Vive entre Rotterdam, Holanda, e Nova York, EUA) é uma artista que trabalha com diferentes técnicas e materiais, incluindo pintura, desenho, colagem e projeções em celuloide. Cria obras que transitam entre o mundo natural, a mitologia e a história. Participou de várias exposições coletivas e individuais ao redor do mundo. Seu trabalho está presente em diversas coleções de instituições, incluindo o MoMA, The Metropolitan Museum of Art, Whitney Museum of Art  (Nova York, EUA), The Art Institute of Chicago, MCA Chicago (EUA), MOCA (Los Angeles, EUA), Philadelphia Museum of Art (EUA), Tate Modern (Londres, Reino Unido) e Centre Pompidou (Paris, França).

Esta participação é apoiada por Mondriaan Fund.