35ª Bienal de São Paulo
6 set a 10 dez 2023
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35ª Bienal de
São Paulo
6 set a 10 dez
2023
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Vista da instalação Metafisica dos Elementos de Denise Ferreira da Silva durante a 35ª Bienal de São Paulo – coreografias do impossível © Levi Fanan / Fundação Bienal de São Paulo

Denise Ferreira da Silva

Uma série de pirâmides se encontram espraiadas pelo Pavilhão da Bienal e, ocasionalmente, ganham novas formas. Cada uma delas configura a presença de um tetraedro, sólido platônico que representa o fogo e compõe Metafísica dos elementos – O E/Studio (2023), de Denise Ferreira da Silva.

O fogo atualiza o exercício pelo qual a artista persegue esteticamente uma questão que retorna em suas produções artísticas e filosóficas. Na capacidade de transformação radical e na recondução do fogo em combinação com os outros elementos, a forma-conceito anuncia a abertura de um aqui-agora para o fim do mundo como o conhecemos. Percebo Metafísica dos elementos – O E/Studio como uma rachadura que tenciona engolir silenciosamente o pavilhão, o parque, a cidade… Não em uma cena dramática e apocalíptica, e sim como espaço para a emergência de coletividades e imaginações que se mantêm vibrando em frequências de afinidade ética.

O fim reapresenta uma disputa e a necessidade de abandonar as ferramentas do pensamento moderno, que promove a dominação como finalidade, convocando à cena

práticas do pensamento constantemente performando o fim, pois jamais partiram do pressuposto de que existe uma separação ontológica entre o humano e as demais presenças que habitam o mundo.

Quando as estruturas de inseparabilidade, os tetraedros, se reúnem e se transformam em mesas, bancos e arquibancadas, o studio funciona como plataforma para a emergência de encontros com intelectuais negras feministas, artistas e movimentos sociais engajados no desmantelamento das formas antinegritude do mundo, e em demandas ecológicas pelo direito à vida, à terra e ao território.

A obra dá sequência a uma série de práticas artísticas pelas quais Denise Ferreira da Silva responde ao projeto de ocuparmo-nos do mundo através do elemental thinking [pensamento elemental], promovendo um deslocamento vertiginoso e necessário aos projetos de descolonização que, no contexto brasileiro, seguem confinados a imaginar a correção das instituições, o que não tem conseguido evitar que o colapso siga dando contorno a esse território.

cíntia guedes

Denise Ferreira da Silva (Rio de Janeiro, Brasil. Vive entre Vancouver, Canadá, e Durham, NC, EUA) é artista, filósofa e professora. Entre seus trabalhos estão os filmes Serpent Rain (2016), 4Waters-Deep Implicancy (2018) e Soot Breath/Corpus Infinitum (2020) em colaboração com Arjuna Neuman; as práticas relacionais Poethical Readings e Sensing Salon, em colaboração com Valentina Desideri; e a série Opera Infinita em colaboração com Anti Ribeiro e Jota Mombaça.