35ª Bienal de São Paulo
6 set a 10 dez 2023
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35ª Bienal de
São Paulo
6 set a 10 dez
2023
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Vista da obra de Dayanita Singh durante a 35ª Bienal de São Paulo – coreografias do impossível © Levi Fanan / Fundação Bienal de São Paulo

Dayanita Singh

A aproximação entre fotografia e dança, em virtude de uma disparidade ontológica entre esses meios, produz uma tensão inicial e imediata entre movimento e paragem. Como se a fotografia estivesse sempre atrás do movimento da dança, sem jamais conseguir capturá-lo completamente. A prática de Dayanita Singh emerge e se alimenta justamente dessa tensão. Seu interesse pela mobilidade do objeto fotográfico quando exposto, presente nas estruturas/coleções que chama de museus, encontra ainda mais complexidade e nuance nos trabalhos apresentados na 35ª Bienal. Em Museum of Dance (Mother Loves to Dance) [Museu da dança (Mãe ama dançar)] (2021), não apenas as impressões fotográficas encontram-se móveis no espaço expositivo, também os retratados estão em movimento, dançando. Entre eles, Mona Ahmed, amiga de longa data de Singh que também protagoniza as demais obras expostas, destaca-se pela recorrência. 

De acordo com Singh, no contexto indiano, Ahmed foi identificada como eunuco, ou como hijra. No entanto, em determinado momento ela se afastou da comunidade de eunucos e passou a questionar a expectativa de feminilidade que havia em relação a ela. “Você realmente não entende. Eu sou o terceiro sexo, não um homem tentando ser mulher. É um problema da sua sociedade que você reconheça apenas dois sexos”.1 Assim, pouco importa “descrever” Ahmed com precisão identitária, mas interessa pensar o movimento infindo que excede o sistema binário de gênero e que podemos chamar de transição. Para além de um retrato da transição como alegoria de movimentos estético-políticos, como frequentemente ocorre quando produzido por lentes cisnormativas, a intimidade e o pacto de confiança estabelecidos na colaboração entre Singh e Ahmed, ao perpassar a unidirecionalidade etnográfica (o “eu” que vê/descreve/produz o “outro”), permite que algo formidável aconteça: a imagem estática evoca e performa o movimento incapturável da transição.

miro spinelli

Dayanita Singh (Nova Delhi, Índia, 1961) desenvolveu um corpo de trabalho que se distingue por sua fotografia. Nos últimos anos, a artista foi tema de exposições individuais no Mudam – The Contemporary Art Museum of Luxembourg (Luxemburgo), no Minneapolis Institute of Art (MN, EUA) e no Tokyo Photographic Art Museum (Japão). Seu trabalho faz parte das coleções de instituições como o Centre Pompidou (Paris, França), K21-Kunstsammlung NRW (Düsseldorf, Alemanha), Moderna Museet (Estocolmo, Suécia) e SFMOMA (São Francisco, CA, EUA).

1. Frase de Mona Ahmed extraída do texto do site de Dayanita Singh sobre o livro Myself Mona Ahmed. Zurique: Scalo Pusblishers, 2001. Disponível em: dayanitasingh.net/myself-mona-ahmed/. Acesso em: 26 maio, 2023.