35ª Bienal de São Paulo
6 set a 10 dez 2023
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São Paulo
6 set a 10 dez
2023
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Performance Repertório N.3, de Davi Pontes e Wallace Ferreira durante a 35ª Bienal de São Paulo © Levi Fanan / Fundação Bienal de São Paulo

Davi Pontes e Wallace Ferreira

Falar da produção de Davi Pontes e de Wallace Ferreira é, antes de mais nada, reconhecer o encontro de ambos que, desde 2018, desenvolvem juntos uma série de trabalhos com base na identificação e na elaboração radical de suas vivências e pesquisas comuns relacionadas à dança e à experiência do corpo dissidente negro no mundo. Entre seus trabalhos produzidos, como Mata leão, morto vivo (2020), Delirar o racial (2021), e a trilogia Repertório (2018 – em curso) a dupla utiliza a mimese, a repetição e a marcação rítmica do contratempo, feita com os pés, como recursos para dilatar a percepção de tempo-espaço. Partindo da pergunta “como elaborar uma dança de autodefesa?”, Pontes e Ferreira experimentam desvios simbólicos da violência programada pelo Estado e por instituições garantidoras da ordem mediante repressão. Com referências às artes marciais e à capoeira, com a crítica ontoepistemológica à filosofia moderna e à história da dança, tomam o ato de criação performática e visual como possibilidade de ativar e ressignificar os arquivos mnemônicos coletivos sobre essas corporalidades. Se o corpo negro em repouso é suspeito e em movimento, uma ameaça, Pontes e Ferreira encontram nesse fazer coreográfico estratégias possíveis para reelaborar imaginários, propondo alterações nos significados simbólicos da presença negra em um mundo que ainda não é capaz de garantir a existência e a dignidade a essas vidas. Enquanto a dança moderna instruiu o público espectador a esperar por acontecimentos impressionantes e grandiosos, a repetição reforça a expectativa do porvir e a incerteza rompe com a previsibilidade sobre a dança. Ao tomar contato com a performance em andamento, o público se encontra imerso na imprecisão sobre início e fim. É possível dizer que Pontes e Ferreira desenvolvem uma anticoreografia contracolonial, o que, na prática da vida negra, pode significar a recuperação e a fundação de modos estratégicos de caminhar em autodefesa no cotidiano, desviando da violência racial, reelaborando a percepção de si e do tempo-espaço em direção ao fim da organização do mundo atual.

maria luiza meneses

Davi Pontes (São Gonçalo, RJ, Brasil, 1990. Vive no Rio de Janeiro) é um artista, coreógrafo e pesquisador. Sua prática explora interseções entre coreografia, racialidade e autodefesa. Através de sua abordagem inovadora, Pontes busca envolver o público de forma política e crítica, estimulando a reflexão sobre a produção da história. 

Wallace Ferreira (Rio de Janeiro, Brasil, 1993) é um artista multidisciplinar com formação em dança e artes visuais. Sua prática artística desafia convenções e explora as interseções de movimento, performance, voguing e imagens visuais. Através de suas obras, adentra os reinos do invisível, desafiando certezas e se envolvendo em rupturas narrativas.