35ª Bienal de São Paulo
6 set a 10 dez 2023
Entrada gratuita
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35ª Bienal de
São Paulo
6 set a 10 dez
2023
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Vista de obra Outres de Daniel Lie durante a 35ª Bienal de São Paulo – coreografias do impossível © Levi Fanan / Fundação Bienal de São Paulo

Daniel Lie

Em uma visita ao ateliê de Daniel Lie em 2017, senti um forte aroma que permeava o ambiente. Produto da decomposição das flores, das frutas e dos vegetais mantidos em seu estúdio, aquele odor era a manifestação de um universo de seres ocultos que daria novos rumos para sua prática artística. A investigação em curso se debruçava sobre os efeitos do tempo e a ação de microorganismos, como fungos e bactérias, na transmutação de matéria orgânica. Presenciar as mudanças na materialidade daqueles elementos, e acompanhar ciclos naturais diversos, possibilitou que Lie refletisse sobre as complexidades das relações interespecíficas e seu papel na geração e na manutenção da vida. 

Lie ampliou suas noções de temporalidade e tem se empenhado em encontrar formas de colaboração que quebrem a noção hierárquica que posiciona a espécie humana no topo da escala evolutiva. Desde então, elu desenvolve “instalações-entidades”: grandes esculturas de materiais orgânicos, resultado do processo de degradação/transformação dos elementos que lhe dão forma. Apesar de responderem ao contexto e ao lugar em que são apresentadas, em cada uma delas, Lie recorre a novos métodos para a criação de ecossistemas harmônicos, onde relações entre fungos, plantas, animais, minerais e outres-além-de-humanes possam romper com uma leitura binária sobre vida e morte. 

Para a 35ª Bienal de São Paulo, Lie apresenta Outres (2023) e busca criar um espaço onde o silêncio, não as palavras, conduza a relações entre os presentes. Outres é resultado da maturação das técnicas e dos modos de fazer desenvolvidos ao longo dos últimos anos de sua pesquisa. A instalação imersiva será composta por vasos de terracota, colunas e arranjos de crisântemos amarelos e brancos, além de tecidos de algodão tingidos com cúrcuma. Somam-se à composição do trabalho, os efeitos da passagem do tempo nos materiais e a eventual geração de novas vidas derivadas das relações estabelecidas entre os agentes orgânicos presentes no ambiente. 

thiago de paula souza

Daniel Lie (1988. Vive em Berlim, Alemanha) cria com base em legados de migração e estudos queer. Suas obras e instalações são realizadas em colaboração com forças que elu chama de “além-de-humanes”, como bactérias, fungos, plantas, animais, minerais, espíritos e ancestrais. Elas foram exibidas em espaços como New Museum (Nova York, EUA), Centro Cultural São Paulo, Casa do Povo (São Paulo, Brasil), Institute for Art and Society (Yogyakarta, Indonésia), Espacios Revelados (Bucaramanga, Colômbia) e Kraftwerk Berlin (Alemanha).