35ª Bienal de São Paulo
6 set a 10 dez 2023
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35ª Bienal de
São Paulo
6 set a 10 dez
2023
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Vista da instalação de Castiel Vitorino Brasileiro durante a 35ª Bienal de São Paulo – coreografias do impossível © Levi Fanan / Fundação Bienal de São Paulo

Castiel Vitorino Brasileiro

A que serve a insistência em perseguir a falência da negritude? Que garantia de pertencimento à humanidade pode ser posta a perder? O trabalho de Castiel Vitorino Brasileiro enfrenta a mais bem assentada das ficções moderno-coloniais, a raça, tensionando-a como ferramenta que hierarquiza a vida na Terra. 

Perguntas sobre a condição de des/humanidade da vida racializada, em geral, são elaboradas conforme o repertório daquilo que a artista define como mitologia da modernidade sobre as raças. Estudando as implicações do dispositivo racial, Brasileiro transmuta os sentidos da presença das corporeidades escuras com base em um repertório banto e nas religiosidades de matriz africana. 

Destaco então a torção do conceito de liberdade que, liberada da concepção moderna-colonial de autodeterminação, é experimentada na condição de impermanência. No livro Quando o Sol não mais aqui brilhar: a falência da negritude (2023), assim como em Montando a história da vida – Museu fictício dos objetos roubados pela polícia (2023), a liberdade surge também como prática radical de intimidade interespecífica, assentada na indistinção do que consideramos biótico e abiótico. 

As intervenções éticas demandadas pelas artes negras e indígenas são acionadas pela convocação da memória e da alma dos elementos que compõem o espaço instalativo. Existe ainda uma investida arquitetônica, presente em Quarto de cura (2018-2022), a questionar as formas de habitação do planeta. 

O museu em ruína torna aparente a ligação entre biologia e história da arte, e no nome da obra Castiel nos lembra que a polícia é quem executa a cena na qual as diferenças psicofisiológicas atribuídas aos corpos escuros justificam a narrativa moderna de superioridade racial. Os assassinatos desses corpos são performados como confirmação de que existem tipos de gente – uma mentira sustentada pelo privilégio do olhar antropológico que fundamenta a iconografia das artes e abastece o imaginário sobre os outros-do-humano, ditando quem pode e deve ser aniquilad_. Assim, o trabalho anuncia o fim do dispositivo racial como possibilidade de viver infinitamente. 

cíntia guedes

Castiel Vitorino Brasileiro (Vitória, ES, Brasil, 1996. Vive entre São Paulo e Vitória, Brasil) estuda a transmutação e as formas de locomoção entre a vida e a morte. Além de artista, escritora e psicóloga clínica, seus trabalhos transitam entre performance, vídeo, fotografia, e instalação, tratando da cura, do encontro, da macumba e da dimensão psíquico-espiritual. Escreveu o livro Quando o sol aqui não mais brilhar: a falência da negritude (2022). Participou de mostras coletivas tais quais na Pinacoteca de São Paulo (Brasil), Frestas Trienal de Artes 2020/21 (Sorocaba, SP, Brasil), Kunsthalle Wien (Viena, Áustria), 11th Berlin Biennale (Alemanha) e Valongo Festival Internacional da Imagem (Santos, SP, Brasil). Ganhou o Prêmio PIPA e a Bolsa de Fotografia ZUM/IMS em 2021.