35ª Bienal de São Paulo
6 set a 10 dez 2023
Entrada gratuita
A+
A-
35ª Bienal de
São Paulo
6 set a 10 dez
2023
Menu
Vista da instalação de Carmézia Emiliano durante a 35ª Bienal de São Paulo – coreografias do impossível © Levi Fanan / Fundação Bienal de São Paulo

Carmézia Emiliano

As cores vibrantes dos quadros de Carmézia Emiliano dão vida ao dia a dia dos povos Macuxi, seus ritos, mitos, trabalho e natureza. Seu vigor estilístico afirma uma cultura única que se desenvolveu na região do monte Roraima e se contrapõe à realidade de seu entorno, marcado por conflitos com o garimpo e pela explosão migratória. 

Carmézia cresceu na região da terra indígena Raposa Serra do Sol. No final dos anos 1980, ela se mudou para Boa Vista e iniciou sua prática em pintura. Suas inspirações partem sempre da memória da vida na comunidade, reforçando continuamente seus laços com a ancestralidade. 

A afirmação de sua cultura através das telas é também uma forma de elaboração do real e do imaginado, em que desenvolve uma poética do cotidiano. A mulher indígena é a protagonista na maior parte da obra de Carmézia, que acaba por demonstrar seu papel e atuação em todos os âmbitos da vida Macuxi, seja tecendo, preparando o beiju, fazendo a colheita, produzindo cerâmica, tomando banho de rio ou cuidando das crianças. A artista, assim, através de seu trabalho, tanto apresenta um comprometimento com a luta indígena quanto destaca a questão de gênero, tensionando aspectos que poderiam passar despercebidos ao debate público. 

Quando Carmézia pinta cenas que evocam a cosmologia de seu povo, abre espaço para a complexificação do cotidiano que busca evidenciar. Bons exemplos são a lenda sobre o monte Roraima (que teria vindo da Wazaká, a Árvore da Vida) e a lenda do Caracaranã, que nos transportam para a dimensão do fantástico. A abertura para a imaginação que a obra da artista provoca é uma potente manifestação política transmitida com sutileza, envolvendo não apenas os Macuxi, mas todos os povos originários. 

pérola mathias

Carmézia Emiliano (Maloca do Japó, RR, Brasil, 1960. Vive em Boa Vista, RR, Brasil) é uma artista indígena pioneira no cenário brasileiro contemporâneo que tem se dedicado à pintura desde a década de 1990. Suas obras trabalham a representação de temas da cultura macuxi, como festas, danças e brincadeiras associadas ao cultivo e consumo da mandioca, além de retratar seu cotidiano e paisagens, destacando-se o monte Roraima. Os macuxis são um povo que habita a região fronteiriça entre a Venezuela, a Guiana e o Brasil. Eles vivem na Terra Indígena Raposa Serra do Sol, local que tem sido palco de conflitos com o garimpo ilegal. Emiliano teve uma extensa exposição individual no MASP (São Paulo, Brasil), além de outras exposições coletivas.