
Carmézia Emiliano
As cores vibrantes dos quadros de Carmézia Emiliano dão vida ao dia a dia dos povos Macuxi, seus ritos, mitos, trabalho e natureza. Seu vigor estilístico afirma uma cultura única que se desenvolveu na região do monte Roraima e se contrapõe à realidade de seu entorno, marcado por conflitos com o garimpo e pela explosão migratória.
Carmézia cresceu na região da terra indígena Raposa Serra do Sol. No final dos anos 1980, ela se mudou para Boa Vista e iniciou sua prática em pintura. Suas inspirações partem sempre da memória da vida na comunidade, reforçando continuamente seus laços com a ancestralidade.
A afirmação de sua cultura através das telas é também uma forma de elaboração do real e do imaginado, em que desenvolve uma poética do cotidiano. A mulher indígena é a protagonista na maior parte da obra de Carmézia, que acaba por demonstrar seu papel e atuação em todos os âmbitos da vida Macuxi, seja tecendo, preparando o beiju, fazendo a colheita, produzindo cerâmica, tomando banho de rio ou cuidando das crianças. A artista, assim, através de seu trabalho, tanto apresenta um comprometimento com a luta indígena quanto destaca a questão de gênero, tensionando aspectos que poderiam passar despercebidos ao debate público.
Quando Carmézia pinta cenas que evocam a cosmologia de seu povo, abre espaço para a complexificação do cotidiano que busca evidenciar. Bons exemplos são a lenda sobre o monte Roraima (que teria vindo da Wazaká, a Árvore da Vida) e a lenda do Caracaranã, que nos transportam para a dimensão do fantástico. A abertura para a imaginação que a obra da artista provoca é uma potente manifestação política transmitida com sutileza, envolvendo não apenas os Macuxi, mas todos os povos originários.
pérola mathias
- Vista de obras de Carmézia Emiliano durante a 35ª Bienal de São Paulo – coreografias do impossível © Levi Fanan / Fundação Bienal de São Paulo
- Vista de obras de Carmézia Emiliano durante a 35ª Bienal de São Paulo – coreografias do impossível © Levi Fanan / Fundação Bienal de São Paulo
- Vista da obra Lenda do casal americano de Carmézia Emiliano durante a 35ª Bienal de São Paulo – coreografias do impossível © Levi Fanan / Fundação Bienal de São Paulo
- Vista da obra Festival de panela de barro de Carmézia Emiliano durante a 35ª Bienal de São Paulo – coreografias do impossível © Levi Fanan / Fundação Bienal de São Paulo
- Vista da obra Buritizeiro no lavrado de Carmézia Emiliano durante a 35ª Bienal de São Paulo – coreografias do impossível © Levi Fanan / Fundação Bienal de São Paulo
- Vista da obra Os caçadores [The Hunters] de Carmézia Emiliano durante a 35ª Bienal de São Paulo – coreografias do impossível © Levi Fanan / Fundação Bienal de São Paulo
- Vista da obra Muquiando peixe de Carmézia Emiliano durante a 35ª Bienal de São Paulo – coreografias do impossível © Levi Fanan / Fundação Bienal de São Paulo
- Vista da obra Mulheres colhendo buriti, de Carmézia Emiliano durante a 35ª Bienal de São Paulo – coreografias do impossível © Levi Fanan / Fundação Bienal de São Paulo
- Vista da obra Fazendo rede de Carmézia Emiliano durante a 35ª Bienal de São Paulo – coreografias do impossível © Levi Fanan / Fundação Bienal de São Paulo
- Vista da obra Salgando peixe, de Carmézia Emiliano durante a 35ª Bienal de São Paulo – coreografias do impossível © Levi Fanan / Fundação Bienal de São Paulo
- Vista da obra Assando castanha de caju, de Carmézia Emiliano durante a 35ª Bienal de São Paulo – coreografias do impossível © Levi Fanan / Fundação Bienal de São Paulo
- Vista de obras de Carmézia Emiliano durante a 35ª Bienal de São Paulo – coreografias do impossível © Levi Fanan / Fundação Bienal de São Paulo
- Vista de obras de Carmézia Emiliano durante a 35ª Bienal de São Paulo – coreografias do impossível © Levi Fanan / Fundação Bienal de São Paulo
- Vista de obras de Carmézia Emiliano durante a 35ª Bienal de São Paulo – coreografias do impossível © Levi Fanan / Fundação Bienal de São Paulo
- Vista da instalação de Carmézia Emiliano durante a 35ª Bienal de São Paulo. 19/10/2023 © Levi Fanan / Fundação Bienal de São Paulo
Carmézia Emiliano (Maloca do Japó, RR, Brasil, 1960. Vive em Boa Vista, RR, Brasil) é uma artista indígena pioneira no cenário brasileiro contemporâneo que tem se dedicado à pintura desde a década de 1990. Suas obras trabalham a representação de temas da cultura macuxi, como festas, danças e brincadeiras associadas ao cultivo e consumo da mandioca, além de retratar seu cotidiano e paisagens, destacando-se o monte Roraima. Os macuxis são um povo que habita a região fronteiriça entre a Venezuela, a Guiana e o Brasil. Eles vivem na Terra Indígena Raposa Serra do Sol, local que tem sido palco de conflitos com o garimpo ilegal. Emiliano teve uma extensa exposição individual no MASP (São Paulo, Brasil), além de outras exposições coletivas.