35ª Bienal de São Paulo
6 set a 10 dez 2023
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35ª Bienal de
São Paulo
6 set a 10 dez
2023
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Vista da performance de Benvenuto Chavajay na 35ª Bienal de São Paulo – coreografias do impossível © Levi Fanan / Fundação Bienal de São Paulo

Benvenuto Chavajay

Me concederam a palavra para falar de Benvenuto Chavajay a vocês, os outros. Aqui na 35ª Bienal de São Paulo, ele, como alguns outros participantes da mostra, não se enquadra apenas no papel de artista: ele é um ritualista que convoca mundos, submundos, supramundos. Outros mundos possíveis. 

No Ocidente, a ação de uma pessoa pendurada de cabeça para baixo é em geral relacionada à imagem de tortura ou execução, e por isso a ação de Chavajay nos perturba. No entanto, no mundo maia, ao contrário, as pessoas que se deixam cair de cabeça para baixo dançando se associam à fertilidade e à celebração da vida digna. 

O artista fica de cabeça para baixo com um chocalho que convoca as almas: mas ele está enquadrado em uma moldura para que a ritualidade, para nós, que estamos deste lado, “apareça como arte”. Aqui, então, surgem todas as questões sobre os limites entre os paradigmas que tornam invisíveis outras existências – transformando seres humanos, animais e espíritos em pura mercadoria (conceitos segundo os quais nos movemos diariamente, classificando a realidade sob parâmetros impostos a ferro e fogo) – e aquilo que ressoa dentro de nós, ainda… e apesar dos quinhentos anos.

Chavajay se apresenta como filho de analfabetos; isso significa, na realidade, que ele é herdeiro de uma linhagem de des-conhecedores das lógicas simbólicas da dominação e do extermínio colonial. Com ele dançam um território, uma comunidade, uma língua e uma história de resistência. 

Benvenuto Chavajay reivindica esses elementos tanto quanto a honra perdida das pedras, consideradas sagradas em muitas das culturas do continente americano. Portanto, suas ações performativas são de grande generosidade: ele mobiliza forças não como um espetáculo vazio, não como uma excentricidade, mas como um pequeno fogo que vai dissolver a alma das pedras.

natalia arcos salvo
traduzido do espanhol por ana laura borro

Benvenuto Chavajay (San Pedro La Laguna, Guatemala, 1978. Vive entre Cidade da Guatemala e San Pedro La Laguna) trabalha com técnicas e materiais diversos. É performer, ativista, assistente social e cofundador do Coletivo Tzun-Ya e coordenador do Festival Chi-Yá (San Pedro La Laguna). Apresentou seu trabalho em várias exposições coletivas e individuais exibidas em locais como Ciudad de la Imaginación (Quetzaltenango, Guatemala) e Museo de Arte y Diseño Contemporáneo (San Jose, Costa Rica). Seu trabalho faz parte das coleções de várias instituições como o New York Museum (EUA), Museo de Antioquia (Medellín, Colômbia), Artist Pension Trust Collection (Nova York, EUA) e Museo Reina Sofía (Madri, Espanha).