35ª Bienal de São Paulo
6 set a 10 dez 2023
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35ª Bienal de
São Paulo
6 set a 10 dez
2023
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Vista de obra de Ayrson Heráclito e Tiganá Santana durante a 35ª Bienal de São Paulo – coreografias do impossível © Levi Fanan / Fundação Bienal de São Paulo

Ayrson Heráclito e Tiganá Santana

Agô! Pede-se licença para entrar na mata sagrada. 

Povoada de vidas materiais, inanimadas ou que se tornaram ancestrais, nela habitam diversas energias, que, em conjunto, formam uma floresta de infinitos. 

Sob a proteção sempre alerta de caboclos, encantados, de Oxóssi e de Mutalambô, Ayrson Heráclito e Tiganá Santana, olhos que nunca dormem, realizam um sonho: um tributo à floresta, uma oferenda às forças da natureza, louvando sua energia resguardada entre plantas e árvores, que tornam possível a existência da humanidade. 

Das projeções que refletem imagens múltiplas, produzindo sons e sensações que surgem em uma floresta fria e colorida, saltam rios, pássaros e folhas amassadas sobre as quais caminhamos. Flores, pererecas, insetos e outros biomas extintos convivem com ancestrais originários, com caboclos, com Chico Mendes, com Bruno e Dom, com mãe Stella de Oxóssi. Quando essa floresta chora as dores da violência, do colonialismo e da destruição, é Oyá, agora guardiã de todos esses Eguns, mãe de tudo que já foi vivo, que os/as convida a dançar alegremente e celebrar a vida que se preserva e se renova na natureza.

A floresta de infinitos, instalada no centro da maior cidade da América Latina, é uma façanha da arte, fruto de uma coragem de caçador. É uma história impossível materializada em nome de um projeto político em defesa da vida e da preservação da natureza, que propõe uma ruptura radical com a ignorância e o extermínio.

Agô, é hora de deixar a floresta. Deixemos a mata voltar a seu silêncio misterioso, com seus encantados, rios e formas de vida infinitas. Com a ausência humana, os bambuzais balançam novamente sinalizando o reestabelecer do equilíbrio. Seres invisíveis fundem-se em uma só potência vital e estão livres novamente no anoitecer das matas de Oxóssi e Mutalambô. A respeito da visita humana, perguntam-se: será que aprenderão que toda vida é sagrada?

Agô.
A bênção.
Olorum Modupé. 

luciana brito

Ayrson Heráclito (Macaúbas, BA, Brasil, 1968. Vive entre Cachoeira e Salvador, BA, Brasil) é artista visual, pesquisador, curador e professor. Suas obras vêm sendo apresentadas em mostras individuais e coletivas, nacionais e internacionais como III Bienal do Mercosul (Porto Alegre, RS, Brasil), II Trienal de Luanda (Angola), e fazem parte de coleções como a do Museum der Weltkulturen (Frankfurt, Alemanha) e Museu de Arte Moderna da Bahia (Salvador, Brasil).

Tiganá Santana (Salvador, BA, Brasil, 1982. Vive em Salvador) é compositor, cantor, curador, poeta, multiartista, tradutor e professor de artes da Universidade Federal da Bahia. Iniciado no Candomblé como Taata Kambondo, possui vários álbuns, trabalhos sonoros e em multimeios, tendo sido o primeiro compositor a apresentar um disco com canções em línguas africanas no Brasil, assim como é igualmente reconhecido pelo seu trabalho de pesquisa em estudos bantu.