35ª Bienal de São Paulo
6 set a 10 dez 2023
Entrada gratuita
A+
A-
35ª Bienal de
São Paulo
6 set a 10 dez
2023
Menu
Vista de obras de Anne-Marie Schneider durante a 35ª Bienal de São Paulo – coreografias do impossível © Levi Fanan / Fundação Bienal de São Paulo

Anne-Marie Schneider

De seus primeiros desenhos na década de 1980, centrados no potencial transbordante da escrita e da linha, a suas incursões posteriores em planos de cor e a experiência de uma policromia orientada ao sensível, o traço parece ser o elemento que oferece unidade ao imaginário deliberadamente fragmentário da artista Anne-Marie Schneider. 

Schneider explica que, enquanto cria, trabalha com a consciência e a inconsciência ao mesmo tempo. Desse modo, as peças selecionadas para coreografias do impossível configuram um repositório de imagens mentais transferidas para o papel. Carregadas de ressonâncias biográficas e alusões a questões sociais, a artista tenta registrar − ou coreografar −, por meio delas, o tremor que constitui o eu, que, conforme o aforismo rimbaudiano, também “é um outro”.1

Suas obras estão repletas de personagens solitários ou de relacionamentos perturbadores, rostos distorcidos que se confundem com suas máscaras, corpos que sofrem mutações e se prolongam no espaço doméstico, arquiteturas emocionais nas quais as fronteiras entre pessoa e estrutura se desvanecem. Nas palavras do crítico francês Jean-François Chevrier, esses corpos-casa entendem o que os cerca “como um complexo instável trabalhado pela violência dos afetos”.2

Essas deformações grotescas abrem caminho para uma prática que contempla a distorção e a fábula ao um só tempo, partindo do absurdo, da ironia ou da crítica. Assim, os desenhos e as pinturas de Schneider esboçam um semblante autoconstruído: que jamais deixa de se recompor por meio da recuperação do gesto, dos vestígios e das confusões do discurso, das cenas que − como explicou uma de suas referências, a escritora Virginia Woolf − produzem uma onda na mente.3

beatriz martínez hijazo
traduzido do espanhol por ana laura borro

1. Frase do poeta francês Arthur Rimbaud, “Je est un autre” (Eu é um outro) está presente em uma carta de 13 de maio de 1871, endereçada a seu professor Georges Izambard. El País, Madri, 16 nov. 2016.
2. Jean-François Chevrier (posfácio), “Trazo película color” [Traço filme cor], in Anne-Marie Schneider. Madri; Paris: Museo Nacional Centro de Arte Reina Sofía; Éditions L’Arachnéen, 2016.
3. Virginia Woolf, “Esta ola en la mente” (Essa onda na mente), trecho de uma carta de 16 de março de 1926, endereçada à escritora e jornalista Vita Sackville-West. In Federico Sabatini (ed.), Sobre la escritura. Virginia Woolf. Barcelona: Alba Editorial, 2015, p. 34.

Anne-Marie Schneider (Chauny, França, 1962. Vive em Paris, França) é uma artista cuja prática baseia-se majoritariamente em referências autobiográficas. Mais conhecida por seus desenhos, também trabalha com esculturas e filmes. Sua obra foi apresentada em espaços como Museo Reina Sofía (Madri, Espanha), Musée d’Art Moderne de la Ville de Paris, Centre Pompidou (Paris, França), Documenta 10 (Kassel, Alemanha), National Museum of Women in the Arts (Washington, DC, EUA), The Morgan Library & Museum, The Drawing Center (Nova York, EUA), National Taiwan Museum of Fine Arts (Taichung, Taiwan), Fundació Juan Miró (Barcelona, Espanha), Museum on the Seam (Jerusalém, Israel) e integra coleções francesas como a do Musée d’Art Moderne de la Ville de Paris, Centre Pompidou (Paris) e Fonds National d’Art Contemporain (Puteaux, França).

Esta participação é apoiada por Institut français.