35ª Bienal de São Paulo
6 set a 10 dez 2023
Entrada gratuita
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35ª Bienal de
São Paulo
6 set a 10 dez
2023
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Vista da instalação ANTENA IA MBAMBE Mimenekenu Ê lá Tempo! de Ana Pi e Taata Kwa Nkisi Mutá Imê durante a 35ª Bienal de São Paulo – coreografias do impossível © Levi Fanan / Fundação Bienal de São Paulo

Ana Pi e Taata Kwa Nkisi Mutá Imê

“A unidade é submarina…”
− edward kamau brathwaite

Ana Pi é uma artista do corpo e do espírito, que integra noções de trânsitos e de deslocamentos a seus trabalhos, por meio de gestos, cores e sons comuns. Taata Kwa Nkisi Mutá Imê é diretor da Casa dos Olhos do Tempo que Fala da Nação Angolão Paketan Malembá-Nzo Mutá Lombô Ye Kayongo. Desde a década de 1980, Mutá Imê vem moldando uma metodologia para o ensino e a pesquisa da dança sagrada em toda a diáspora africana, envolvendo inquices, voduns, orixás, caboclos e encantados, por meio de movimentos que equilibram as dimensões mental, física e espiritual. Juntos, “esses praticantes fazem uso de espaços que não podem ser vistos”.1 Em conjunto, Pi e Mutá Imê escrevem com o corpo, costurando espaços e memórias para ir além da coreografia do palco e adentrar os movimentos da vida cotidiana.

Essa parceria deu origem a um projeto expressivo transnacional que triangula Brasil, França e Senegal. Na forma, “as redes dessas escritas tocantes e entrecruzadas compõem uma história múltipla que não tem autor nem espectador, moldada a partir de fragmentos de trajetórias e alterações de espaços”.2 É uma ruminação poética corporificada em caminhos percorridos em praias e ruas de paralelepípedos, entrando e saindo de coleções institucionais do Institut Fondemental d’Afrique Noire (IFAN), em Dacar, no Senegal, e do Musée du Quai Branly, em Paris, França. Esses atores compartilham um compromisso com a errância, que, na realidade, é a “postulação do sagrado, que nunca se dá e nunca se apaga”.3 Ao mesmo tempo que reconhecem uma forma de pensar inscrita na visão, acolhem o conhecimento que emana do corpo nos vestígios que deixamos, nos suspiros que emitimos. São parceiros comprometidos com o periférico – um espaço mental no qual o inseguro pode se tornar um lugar de construção; um lugar em que se vai em busca da imagem gravada na mente, mas volta com sementes, prontas para fazer crescer novos mundos.

oluremi onabanjo
traduzido do inglês por naia veneranda

Ana Pi (Belo Horizonte, MG, Brasil, 1986. Vive em Montreuil, França) é artista coreográfica e imagética, pesquisadora de danças afro-diaspóricas e urbanas, dançarina extemporânea e pedagoga. Suas práticas são tecidas através do ato de viajar. Sua obra se situa entre as noções de trânsito, deslocamento, pertencimento, superposição, memória, cores e gestos ordinários.

Taata Kwa Nkisi Mutá Imê (Salvador, BA, Brasil, 1956. Vive em Salvador) é sacerdote supremo no candomblé. Suas atividades principais circulam entre as dimensões de preservação da sabedoria ancestral Kongo Angola, na atualização das filosofias Bantu e a partilha de tecnologias Bakongo com a sociedade. Desde os anos 1980, ele vem criando uma metodologia de ensino e pesquisa de danças sagradas da diáspora africana.

1. Michel de Certeau, “Walking in the City”, in The Practice of Everyday Life (1980), trad. Steven Rendall. Berkeley: University of California Press, 2010, p. 93.
2. Ibid., p. 93.
3. Édouard Glissant, Poética da relação. Tradução de Marcela Vieira e Eduardo Jorge Oliveira; revisão técnica Ciro Oiticica; prefácio Ana Kiffer, Edimilson de Almeida Pereira. 1ª ed. Rio de Janeiro: Bazar do Tempo, 2021, p. 44.

Esta participação é apoiada por Institut français.