
Amos Gitaï
“Gitaï quer que essa casa se torne algo bem simbólico e bem concreto, que ela vire um personagem. Uma das coisas mais bonitas que os filmes podem alcançar: pessoas olhando para a mesma direção e vendo coisas diferentes. E sendo movidas por essa visão.”
− serge daney,
Libération, 1º mar. 1982
Amos Gitaï vem documentando uma única casa em Jerusalém ocidental por mais de quatro décadas a fim de narrar a história de uma região complexa por meio de variadas formas artísticas. Seus projetos começaram com uma trilogia de documentários realizada ao longo de mais de 25 anos: Bait [Casa] (1980), A House in Jerusalem [Uma casa em Jerusalém] (1998) e News from a House / Home [Notícias de uma casa / Lar] (2005). Nesses filmes, o espaço arquitetônico revela uma dimensão política.
Bait é o primeiro trabalho de Gitaï, filmado em 1980 imediatamente depois de seu retorno de Berkeley, onde ele terminara um doutorado em arquitetura. Esse documentário em preto e branco realizado em 16 mm identifica os diferentes proprietários e ocupantes de uma casa, desde o primeiro, um médico palestino que a abandonou em 1948. O governo israelense então a confiscou e alugou, com base em uma lei “da ausência”, para um casal de judeus imigrantes da Argélia. Na época da filmagem, um professor de economia israelense comprou o imóvel. Ele decidiu transformá-la de casa térrea em um casarão de três andares. Mas, para executar a construção, teve que contratar palestinos do campo de refugiados e usar pedras das montanhas de Hebron. O espaço arquitetônico da Casa, assim, tornou-se ao mesmo tempo um microcosmo das relações israelense-palestinas e uma metáfora para Jerusalém. O filme constitui um palco aberto para diferentes ocupantes, trabalhadores e empreiteiros compartilharem suas vidas e perspectivas. A transmissão de House, o filme de 1980, foi banida pela televisão israelense na época.
editado por juliana de arruda sampaio
traduzido do inglês por gabriel bogossian
- Vista da obra Bait [Casa] de Amos Gitaï durante a 35ª Bienal de São Paulo – coreografias do impossível © Levi Fanan / Fundação Bienal de São Paulo
- Vista da obra Bait [Casa] de Amos Gitaï durante a 35ª Bienal de São Paulo – coreografias do impossível © Levi Fanan / Fundação Bienal de São Paulo
- Vista da obra Bait [Casa] de Amos Gitaï durante a 35ª Bienal de São Paulo – coreografias do impossível © Levi Fanan / Fundação Bienal de São Paulo
- Vista da obra Bait [Casa] de Amos Gitaï durante a 35ª Bienal de São Paulo – coreografias do impossível © Levi Fanan / Fundação Bienal de São Paulo
Amos Gitaï (Haifa, Israel, 1950. Vive em Paris, França) é cineasta e criou mais de noventa obras. Seus trabalhos foram apresentados em diversas retrospectivas no Centre Pompidou (Paris, França), MoMA e Lincoln Center (Nova York, EUA), e British Film Institute (Londres, Inglaterra). Seus filmes foram apresentados no Festival de Cannes (França) e Biennale Cinema (Veneza, Itália).