35ª Bienal de São Paulo
6 set a 10 dez 2023
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São Paulo
6 set a 10 dez
2023
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Vista da videoinstalação de Aida Harika Yanomami, Edmar Tokorino Yanomami e Roseane Yariana Yanomami Yuri u xëatima thë [A pesca com timbó] durante a 35ª Bienal de São Paulo – coreografias do impossível © Levi Fanan / Fundação Bienal de São Paulo

Aida Harika Yanomami, Edmar Tokorino Yanomami e Roseane Yariana Yanomami

Em 2023 vimos escancarados os ataques e o genocídio promovidos contra o povo Yanomami. As ameaças do garimpo ilegal e suas consequências socioecológicas não são de hoje e já faz tempo que os Yanomami buscam se proteger através de organizações, mas também reforçando sua cultura e tradição. O cinema indígena yanomami é recente, mas se mostra potente, dinâmico e assertivo.

Yuri u xëatima thë [A pesca com timbó] e Thuë pihi kuuwi [Uma mulher pensando] contam histórias íntimas do povo Yanomami sobre dois de seus rituais. O primeiro aborda o hábito da pesca realizada com cipó macerado e colocado em balaios em determinados trechos do rio em tempo de seca. O segundo nos faz acompanhar o pensamento e o olhar de uma indígena sobre a preparação da yãkoana para uso ritual dos xamãs. Ambos são dirigidos por Aida Harika Yanomami, Edmar Tokorino Yanomami e Roseane Yariana Yanomami, membros da organização Hutukara, e foram filmados na comunidade Watorikɨ.

Yuri u xëatima thë começa nos inserindo em um cenário coletivo e nos conduz a uma virada de roteiro que passa a acompanhar o conflito envolvendo uma única personagem, borrando a fronteira entre realidade e ficção. Já em Thuë pihi kuuwi, a narradora nos coloca dentro de sua mente e vemos o que ela vê ao longo de um dia inteiro em que assiste à preparação da yãkoana. O ritual é um dos mais importantes entre os Yanomami: é quando os xamãs entram em contato com os espíritos xapiri, os chamam para dançar e entram em estado de transe e sonho. É o contato dos xamãs com os xapiri que protege toda a comunidade e, como descreve Davi Kopenawa no livro A queda do céu, os xamãs mais antigos ensinam as novas gerações a responder ao chamado dos espíritos, pois, se não o fizerem, ficarão ignorantes.

Os rituais, as tradições, a ligação do povo Yanomami com o sonho e suas cosmologias estruturaram um sistema de crenças sobre a preservação da existência mundana e são armas poderosas através das quais pulsa a vida e a nossa possibilidade de futuro.

pérola mathias

Aida Harika Yanomami (1998) e Edmar Tokorino Yanomami (1986) nasceram e residem na comunidade Watorikɨ, na região do Demini da Terra Indígena Yanomami, Amazônia brasileira. Roseane Yariana Yanomami (1998) nasceu na comunidade Watorikɨ e reside na maloca Buriti, também localizada na região do Demini. Os cineastas fazem parte do coletivo de comunicadores Yanomami criado em 2018 pela Hutukara Associação Yanomami com apoio do Instituto Socioambiental (ISA). Thuë Pihi Kuuwi – Uma mulher pensando e Yuri U Xëatima Thë – A pesca com Timbó são os primeiros filmes que dirigem em conjunto.