35ª Bienal de São Paulo
6 set a 10 dez 2023
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Vista das obras de Ahlam Shibli durante a 35ª Bienal de São Paulo – coreografias do impossível © Levi Fanan / Fundação Bienal de São Paulo

Ahlam Shibli

Em um texto sobre a obra de Ahlam Shibli, o crítico e historiador da arte T.J. Demos faz referência ao teórico e filósofo Roland Barthes e afirma: “A morte é o eidos da fotografia, sua forma ideal e mais destacada expressão. De fato, não há fotografia que não mostre ausente aquilo que representa”.1

Nas 68 fotografias da série Death [Morte] (2011-2012), Shibli parece confirmar e, ao mesmo tempo, inverter essa afirmação. Shibli a confirma na medida em que o tema da série é o regime de imagens e a cultura visual do martírio na Palestina. Mas a obra questiona a afirmação quando, desde que a morte é seu objeto, a ausência cessa de pairar como um espectro sobre a imagem fotográfica. Trazida à luz e detectada, a morte desafia o status da fotografia, ameaçando-a com a perda de suas qualidades de ausência. Na série Death, a perda de vidas humanas ecoa mediante a perda potencial do eidos fotográfico de Barthes.

Cartazes, fotografias, pinturas e banners de mártires palestinos da Segunda Intifada (2000-2005) povoam as imagens de Shibli. A obra é certamente uma forte tomada de partido, um testemunho da violência exercida pelo Estado israelense contra os palestinos e um ato de rebelião contra a eliminação física e política da Palestina e de seus habitantes. Constitui, principalmente, um testemunho da onipresença da morte na sociedade palestina. De fato, suas imagens de mártires povoam tanto o espaço público quanto o privado.

Observando a composição das fotografias que integram a série, poderíamos ser tentados a considerá-la uma única imagem e, retomando Barthes, uma imagem da qual aprendemos a reconhecer o punctum, ou seja, o detalhe que promove uma quebra na relação entre o espectador e a intencionalidade do fotógrafo. Há ao menos duas imagens/detalhes que pontuaram minha visão nessa panorâmica. A primeira delas mostra dois garotos, que parecem serenos, em um cemitério palestino. A segunda captura duas mulheres sorridentes em casa, sob a imagem de um mártir que carrega uma criança. O punctum é uma ruptura, uma pontada, uma ferida; consequentemente, esses dois detalhes na série não oferecem um consolo banal diante da penetração da morte, de sua presença constante na vida em um regime colonial, como esse que sujeita os palestinos. Por outro lado, eles ainda emitem vida como uma ondulação no status quo, um rasgo em um presente necropolítico.

marco baravalle
traduzido do inglês por gabriel bogossian

Ahlam Shibli (Palestina, 1970. Vive entre a Palestina e a Alemanha) é fotógrafa. Por meio de uma estética documental, seus trabalhos abordam as implicações das noções contraditórias de lar e foram exibidos em espaços como Seoul Museum of Art, Busan Biennale (Coreia do Sul), Darat al Funun (Amã, Jordania), Remai Modern Museum (Saskatoon, Canadá), Documenta 12 e 14 (Kassel, Alemanha), MACBA (Barcelona, Espanha), Jeu de Paume (Paris, França), Museu Serralves (Porto, Portugal), Museum of Modern Art in Warsaw (Varsóvia, Polônia), Museo Reina Sofía (Madri, Espanha), Haus der Kunst (Munique, Alemanha), Kunsthalle Basel (Suíça), Tate Modern (Londres, Inglaterra), Centre Pompidou (Paris, França), 27ª Bienal de São Paulo (Brasil), Fondazione Cassa di Risparmio di Modena (Itália), Istanbul Biennial (Turquia) e Yokohama Museum (Japão).

1. T. J. Demos, “Disappearance and precarity: On the photography of Ahlam Shibli,” in Ahlam Shibli: Phantom home. Essays by T.J. Demos and Esmail Nashif. Exhibition Catalog. Barcelona/ Paris/ Porto/ Ostfildem: Museu d’Art Contemporani de Barcelona (macba) / Jeu de Paume / Museu de Arte Contemporânea de Serralves / Hatje Cantz, 2013, p. 16.