35ª Bienal de São Paulo
6 set a 10 dez 2023
Entrada gratuita
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35ª Bienal de
São Paulo
6 set a 10 dez
2023
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Gesto: Djunta Mon

Djunta mon nas coreografias do impossível

COREOGRAFIAS DOS OLHARES…
AS ARTES, TÃO PLURAIS, excelências VISUAIS,
TÃO ATUAIS, TÃO Signos,
TÃO Profundas, LEVITA,
GRITA, evita O PADRÃO…
IMPROVISO, O IMPOSSÍVEL,
O VISÍVEL, O INVISÍVEL,
O SENTIDO, O ESPÍRITO…
O tempo todo
Todo tempo
Para tudo
Coreografamos
Nossas vidas
Buscamos sentidos
Tentando traduzir
Positividades
A arte nos movimentos
dos sentimentos…

O tempo todo
Todo tempo
Para tudo

Nas buscas
Coreográficas,
Descrevem, desenham,
Movimentam,
Mentalizam,
Desestabilizam,
Em nossos corpos
Improvisos, avisos,

Escrevivências,
Essências no essencial,
Básico, apático a ser e se há não ser…
Para vivermos…

Não são abstratas as negações,
NÃO AO ABSOLUTO, O LUTO,
Corrompem nossos desejos,
Quebram os nossos afetos,
Demonizam nossas culturas
Apropriam dos nossos conhecimentos
Buscamos atentos sobreviver
Aos atentados sociais…

Duzentos poetas e poetisas
Todos poetas, a vida
Nas rimas improvisadas
Nas ritmadas buscas
A fazermos coreografias
Nos sonhos impossíveis
AtletaRTICULANDO capacidades
Nebulosas cidades para viver
Libertando as dores,
Escondendo-as
Desarmando as correntes
Impostas por negações,

Por interesses escusos
A utopia carregada
Do falso estado Laico,
Mundano na ilegalidade da FÉ,
A pé, de pé, derrubo minhas fronteiras…
Vozes carregadas
Nos fragmentos
Das relações e nas inter-relações;

Internas, externas,
Subjetivas, objetivas
De impossibilidades, quase sempre,
Os olhos veem sempre Presente de grego…

Divididas nas duvidosas
Interlocuções
Das geografias interseccionais
Nas geografias físicas
Racializadas e que compõem
Falseados cuidados e nem um pouco zeloso
Com a história plural
Cultuada com todas as vozes,
Trazendo todas as vibrações
Das coreografias sonhadas.
Imaginadas, reparadas
Nas equações humanitárias
De realizar os instantes
A coibir tanta violência racial,
Religiosa, homofóbica,
Transfóbica, xenofóbica…

O tempo todo
Todo tempo
Para tudo
Coreografias, grafias
A subverter impossibilidades,
Impossíveis nunca,
Caminhadas nas noites, muitas vezes,
mal dormidas,
Nos dias, muitas vezes, às escondidas,
Nas lembranças, muitas vezes, negadas,
Nos silêncios, muitas vezes, aterrorizantes,
Nos não acessos, muitas vezes, as políticas públicas
de qualidade…

nos desejos, muitas vezes, mutilados a matar as raízes,
NOSSOS ANCESTRAIS FORMARAM NOSSOS ARQUÉTIPOS
NAS SABEDORIAS DOS GRIÔS, YABÁS,
IANSÃS, NANÃS, XANGÔS, ERÊS,
EXUS, DEUSES ZULUS…
OGUNS, OGANS,
QUILOMBOS, AQUILOMBAMENTOS
Terreiros, nossas lamúrias
São protestos ecoados,

Porquê! Cheguei na Bienal,
Sonho, terreiro,
A vida não é precisa,
Não é só uma procissão,
Lutamos a quebrar a inquisição
Negação da materialidade, terra habitada
Não é terra descoberta,
A poesia na palavra
Que chora, que grita,
Que rompe com as grades internas,
Que traduzem o esperançar,
A natureza que conversa
Com as paisagens internas
Calejadas dos cinzentos
Aprisionamentos das brisas,
Corpos invadidos de opressões
Amo a dança
Quero o meu corpo no meu eu, ser um balançado
Livre no seu instinto de leveza
Desenhando no movimento das palavras,
Trazem as retaliações
Ações conjugadas na educação
E nas possibilidades de voo no quintal…

A BIENAL, a Luz,

A educação, a conscientização, a arte
As articulações, as concepções
As projeções, os improvisos,
As notas, ser um julgador!
Em um SLAM…
Quem será o primeiro,
O segundo, o terceiro,
Todos carregam a força
Da palavra que canta
ARTE EM cada interior…
Artes internas, internalizadas
pela geografia Fontalis!

Conceito, conciliação…
eixos plurais de cento vinte artistas
experimentações, cores,
sabores da Ocupação,
a ampliação, a relação…
a geografia transformada,
transviada, a vida
na sobrevivência,
os versos, os adversos
ritmando entendimento
nos olhares corrompidos,

AGÔ, agô, acordo com a natureza
que não dorme e me socorre
agô, peço licença
adentrar-me em ti natureza
e encontrar a minha natureza
Ayrson Heráclito e Tiganá Santana
a Bahia dos terreiros
o chão de tantos terreiros
que aqui chegou na exploração
colonial, performance

que assusta e me faz inteiro
de uma conexão que não reparte o que sou,
sei, peço agô, licença
a andar pela sua beleza tão misteriosa
eu ESTOU no olhar do meu interior,
não tão belo, sou eu em buscas
quando sinto a sua perfeição,
peço AGÔ, TIGANÁ SANTANA E AYRSON HERÁCLITO…

ESPAÇO DE ROSANA PAULINO
O desenho de tantas mulheres
Raízes entrelaçadas
Que conversam o mundo,
O mundo, o mundo,
Tão mudo e surdo,
Tão absurdo o macho
Em mim, olho para o espelho,
– Pergunto. Que homem sou eu?
São elas, tão esperança,
Nascer, criança, desejo de transformação,
Elas desenham o mundo,
São o AR DO MUNDO,
O AR que respiro,
A semente regada, cuidada,
Lapidada…
Que traduzem subjetividades
Que leva o conflito de
Humanidade ao macho
Necessário a se fazer descobrir,
Amei seu trabalho,
Poesia das raízes
Subjetivas que desenham
Mulheres no mundo…
Entrelaçados de vidas libertárias
De artistas libertos

A desaguarem as palavras que machucam
E a trazerem suas vozes
Que sonham a desviar
dos pesadelos, as curvas
Nunca calculadas
Em uma geografia que esconde a natureza,
Que traz a beleza de vocês,
Dos ancestrais vivos e em Orum,
Escrevem Slams subjetivos
Coreografias de corpos
Persistentes, nunca ausentes…
tanta altivez, atentos
Arrepiantes vozes
Em arrepios que gritam MEU CORPO
em emoção, o chão transpôs
Os limites obtusos
Dos estigmas tão encarnados
Nos olhares negados a VIDA…

Aline Motta,
Descobri-la
Foi acreditar no tempo
Que desenha minha ancestralidade
Tão viva no meu corpo conjugado
De buscas, de linhas
Que desenham um ponto
De saída, talvez, não sei,
Se impossível, possível,
Coreografia que gostaria
De desenhar, colocar
Um drone para vasculhar
Todas as linhas que não sei,
Que não vi, que não vivi,
O repente, ele tão
Silencioso das suas histórias,

Ela tão alegre nos encontros
De família, histórias cortadas,
Alma ferida, meu corpo
Quase preso a não movimentar
A sua revolução interna
De rebeldia…de poesia…
Estancar o martírio,
Ela me deu presente
Arte das viagens ancestrais…

O tempo todo
Todo tempo
Para tudo
Nossos corpos desenham
Nossas histórias
Reveladas em filmes
Em coreografias internas,
As loucuras, as doçuras
As partituras, os toques dos tambores,
Sabedorias de Ibrahim Mahama
Os trilhos tão presentes
Em nossa geografia
O LOCOBREQUE, PARANAPIACABA,
A festa do vinho, São Roque,
Meu avô da rede ferroviária,
Ancestralidade materna
Os trilhos escrevem histórias,
DAS IMIGRAÇÕES, corpos nativos,
Corpos carregados das dores
Colonialidade,

Decolonialidade
Do ser, do poder, da mente,
A BIENAL, TRIGÉSIMA QUINTA BIENAL
DARIA PARA FAZER UM LIVRO

DE IMPROVISO DE CADA
OBRA, CADA PEDAÇO
INTEIRO DE ARTE QUE COMPÕEM
A NECESSIDADE PLURAL DO MUNDO,
NUNCA UNO, NUNCA ABSOLUTO,
NUNCA SÓ DE LUTA, E DE LUTO
INSTIGAM OS CURADORES,
COREOGRAFIAS DO MOVIMENTO
QUE TRANSITAM EM NÓS, ARTE,
PARTE, NUNCA TODO,
A SEXUALIDADE, A PLURALIDADE,
O UNIVERSO DE VERSOS
A CADA PEDAÇO VISITADO,
As vivências dos Improvisos

O educativo da BIENAL
Em especial o Thiago,
O coletivo, o objetivo
De divulgar a arte
Se possível pensar em marte,
Risos,
Sua atenção, seu olhar,
Sua concepção da liberdade
Coletiva, da construção positiva
Do distante, sem medo de busca,
no instante, De Fontalis a Soweto,
nas caminhadas do Glicério,
tantas esquinas,
Lavapés, aos nossos internos,
as deformidades das várzeas
O enterro dos territórios negros
Almas que vozificam
Viabilizam coreografias de territórios internos.
Dos encontros, das fotografias

Trazendo as histórias
Oficina Mágica na Soweto,
ALLAN da Rosa,
Poeta, escritor, pesquisador,
Ator, velejador
Dos espaços das sementes plantadas
De histórias que conversam ancestralidade
Diaspóricas pretas,
E que precisam ser resgatadas;
Da Sá Menina, a chuva
Espiritualizada Na Viela
DJUNTA MON, mãos juntas,
DJUNTA MON, ubuntu,
DJUNTA MON, coreografias,
Grafias Sankofonistas…

Bienal
Luz para as elucidações
Tão pertinentes
As espiralizações do que sou,
Que percorrem linhas.
Tão conversada com a sua percepção
LEDA MARIA MARTINS
tão livre a sua dança,
tão girante este território
que alegra, a espiralar
um tempo que não sei donde veio,
que não sei para onde vai,
as minhas improvisações
oralituras de desenhos
das emoções que deságuam
signos de pertencimento,
não escreverei sobre histórias impossíveis,
os arranjos que povoam
o meu território desafiava

a falta de estrada para correr
os meus sentidos e sentimentos,
as ocorrências trouxeram-me
o outro, outrora o que seria de mim,
sem o outro, com outro;
danço, ouço, converso,
verso, desenho, teatralizo,
realizo, submeto ao submisso,
pesquiso o meu interior,
os campos mareados
de todas as histórias
Africanizadas…
EXUS, EXUS, EXUS
Todos nóS ExuS,
O Brasil dos Exus,
Quantos livros
Nos improvisos
Nos leitos versados
Que saíram do meu interior
Meu corpo são palavras
Que dançam a combate da opressão
Materializada nas normativas
Impostas… a proposta
De reverter sob novas coreografias,
Quilombo CAFUNDÓ
Quantas terras não inscritas
Ao direito altivo aos que cuidaram
tantas organizadas e preparadas
Pelas populações Pretas
Chegadas das diásporas africanas
Sobrevivendo os instintos
sobrevividos das relações
Colonialistas…

Quantos Cafundós, quantos Cafundós

Inspirados em conexões linguísticas,

O tempo todo
Todo tempo
Para tudo
Coreografias do impossível,

Stella, constela
O tempo não a esqueceu
A arte lhe deu a vida
Que vida a mereceu?
Ecoa, destoa
As cores, as dores,
A arte que não têm amadores
Ardores, inspiradores
Quebranças das surras sociais
Estéticas não cruzadas
Com padrões, ladrões da liberdade!
Sem ausência, sem desistência, Stella,
Constela, sua luz, iluminou,
SERÁ QUE MORREU?
STELLA, STELLA…
Você está na 35º Bienal…
Tecedura
Tecer a vida desenrolando
O tempo misterioso
O belo no feio que o outro vê,
O belo no que sinto
Na estética invisível
Do outro ser que traz
A beleza interna
Que convergem fetiches
Para o meu esperançar,
ARTHUR BISPO DO ROSÁRIO
Tombou a sua arte,
Meio século fazendo

Sua arte no manicômio,
parte do tempo
Que escreve sua vida
Desenrolada no tecer
Da 30º, 35º e 55ª BIENAL de VENEZA,
Anjos, guias, sabedorias
Transversais do normativo social…

O tempo todo
Todo tempo
Para tudo
Coreografias do impossível,
Torção, porção
Retorce o interior
Das dores retalhadas
Ancestralidades, retorcidas
Invisibilidades, deslocamentos
Da arte, sua arte na estética
Retalhos dos tecidos,
Tecendo histórias
Espirais das vidas
Cotidianas a paisanas
Tecituras simbólicas
Alinhadas no interior…
Leituras ampliam
Olhares dos retrocessos
Internos… SONIA GOMES…
Elementos tão geniais
Tecimento dos sentimentos
Plurais das distorções sociais…

O tempo todo
Todo tempo
Para tudo
Coreografias do impossível

Judith, Judith Scott
Desenrola, entrelaça
Suas visões,
Atraem afiamentos,
Presente, sua arte a faz,
os deslizamentos conceituais
Da infinitude das possibilidades
Da arte, destranca os olhares
Os sentidos declarados
Qualificais os que desenham o SER.
Ondas de conversas Inter sensoriais,
Você habita em mim,
Construí uma conversa que atravessa
Desconstruções internas necessárias
TAMBÉM,

O tempo todo
Todo tempo
Para tudo
coreografias do impossível
A vida feita pelo improviso
De ressignificar cada dor
Com amor,
Compor no corpo formas
Possíveis para BIENALIZAR
A ARTE COMO COREOGRAFIA DA VIDA…
PARABÉNS GRADA KILOMBA, HÉLIO MENEZES, MANUEL BORJA-VILLEL,
DIANE LIMA…

Improvisador – ROMILDO IBEJI…

 

 

Djunta Mon na Viela

Paulo Rafael da Silva, integrante do Coletivo Djunta Mon

 

Numa festa adiada por conta da chuva, a Viela em dia de lua – que funciona como centro cultural e museu vivo – encerrou junto com o Coletivo Djunta Mon, Soweto, Sá Menina, Baixada do Glicério Viva, Escola Hipólito, educativo da Bienal, alguns de nossos artistas1 acostumados a carregar na alma, coloridos diversos, transportando para as paredes da viela tudo o que pensávamos  de nossos encontros com a força de outros olhares.

Leda Maria Martins, a feitora de rodopios, nos ajudou a espiralar e encontrar nas cabeças de negros africanos ou afro brasileiros, turbantes e coroas parecidos com os usados por Aboubacar e pelas Pastoras do Rosário, começando nossa história pelo Ori.

Seguimos com os jovens grafitando nossa identidade e tirando das paredes chapiscadas sons de tambores, violões e berimbaus. 

Obrigado a Dona Antônia, a moradora que mais transitou na Viela – que com seu gingado ancestral conduziu, nos ensinando a caminhar sempre de mãos dadas. Sempre Djunta Mon.

Isso também nos ajuda a construir nossa identidade enquanto coletivo, tentando entender esse muro vazio, agora coberto por nossas memórias, parecida com outras em diferentes ilhas que privilegiam identidades.

Um é Djunta Mon o outro Reunião, os dois têm origens – uma é Françoise2 a outra Dona Antônia.3

 

    • Babi Lops, Marquinhos, Lady Brown, Ludica, Larissa e Layane.
    • Referência a Françoise Vergès, cientista política, historiadora, ativista e especialista em estudos pós-coloniais. Nascida em Paris, França, Vergès cresceu em Reunião, uma ilha no sudoeste do oceano Índico que foi colonizada pela França no século XVII.
    • Dona Antônia, nasceu em Itu, interior de São Paulo, mas não foi convidada para a Convenção de Itu no hoje Museu da República. Muito pelo contrário, em cima de uma carroça, ela e sua irmã Lourdes, empurradas pelo pai, caminharam por terrenos baldios, mesmo sem luz, água ou cores. Por isso, hoje na Viela em dia de lua, Dona Antônia se encontra com Françoise Vergès dando sequência  a sonhos antigos, bem diferentes do tal museu em Itu.

Sobre a autoria

Romildo José dos Santos, nascido na data de São Pedro, sem o nome de Pedro, pergunta que faço ao plano superior, de 1960, rascunha dor, improvisador. Gosto da performance com as palavras que gritam do interior, dão sentido na busca de libertar as prisões impostas por opressões sociais no meu subjetivo que trava o meu corpo, canceriano. As lágrimas desenham a sensibilidade, ou a desestabilidade, nem sei, poesia coreografia do encontro eu e o tempo inexato que vivemos. Sou viúvo, tenho um rei e uma Pérola, um casal de netos. Aposentado, ativista na SOWETO ORGANIZAÇÃO NEGRA, busco sempre um conhecimento novo no ‘nada sei’, encontro sempre um desenho a ressignificar.

Paulo Rafael, escritor,  educador, historiador. Escreveu “O mundo cá tem fronteiras, uma aventura Brasil-Cabo Verde”; “O garoto Regulus: freireando a vida”; “Almas da liberdade” com Romildo Ibeji e Sebastião José da Silva. Trabalhou como educador em favelas, cursinhos e universidades.