35th Bienal de São Paulo
6 Set to 10 Dec 2023
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Formação da equipe de educação no Sesc Rio Preto: Coreografar o gesto e gestar a palavra

A equipe de educação da Bienal realiza a formação com as equipes educativas das instituições que recebem a itinerância da 35ª Bienal de São Paulo – coreografias do impossível. Relatamos brevemente os movimentos do gesto coreografar a palavra, realizado durante a formação presencial no SESC Rio Preto, que recebe a exposição de 6 de março a 26 de maio. 

Para chegar, acordar ou mesmo que só convidar a estar presente, iniciamos com a educadora e a articuladora de mundos Inaicyra Falcão, que já fazia ecoar sons entre mares1 pela sala antes mesmo da chegada das pessoas.

bater palmas, marcar o ritmo e cantar são ações primordiais que me fazem lembrar da brincadeiras de quando era criança” 

A partir daí, seguimos com os versos:

Menina quando tu fores
me escreva pelo caminho
se não achares papel
nas asas do passarinho

Após esse primeiro momento, Anderson Feliciano entrou na roda para movimentar, como as franjas do mar, novos caminhos. O corpo mesmo tímido – talvez calor (35º) talvez a sensação de não-saber-o-que-estava-por-vir – parecia pedir pela palavra, por isso, demos a ele de comer. 

Dona Maria de Jesus e sua filha Djanira Maria da Silva, s/d. Foto: Acervo/cortesia Anderson Feliciano

 

…Saudamos Dona Maria e sua filha Djanira. Depois lemos e escutamos o corpo e a voz de Feliciano para começarmos a coreografar a palavra, gesto do primeiro movimento da publicação educativa da 35ª Bienal.

Num movimento de ir e voltar como o passarinho pequenininho, tomamos, compomos, ritmamos e corporificamos. Cacofonia, coro… A voz tomou a sala em diferentes ritmos, tempos, ansiedades, intenções. Ali, cessamos qualquer ideia de cisão entre corpo e voz. 

Na conversa que se seguiu trocamos sobre mediação. Começando pela palavra, por nossa relação com a palavra escrita. Acalmamos os corpos, aterramos, por entender que sem cisão entre corpo/voz, corpo/mente precisamos deixar caber a palavra, comê-la! Afinal, ela mesma caminha agarrada em nós.

Evocaram Toni Morrison.2

Se as histórias que você quer ler não existem ainda, crie.

Adrienne Rich…3

Esta é a língua do opressor, mas eu preciso dela para falar com você.

Anderson e as coreografias [Leda, os gestos, Inaicyra, Rosana, Sueli, Saidiya, Maya, Katherine, Ayllu e tantas outras vozes] nos ajudaram a alcançar a beleza de entender outras formas para chegar/ inquietar/ tomar/ aproximar/ compor/ aconchegar/ corporificar a palavra enquanto seguíamos dançando com a palavra oraliturizada.

Beleza não é luxo; ao contrário, é uma forma de criar possibilidade no espaço da clausura, uma arte radical da subsistência, o acolhimento do que é horrível em nós, uma transfiguração daquilo que é dado. É o desejo de adornar, uma tendência ao barroco e ao amor pela abundância.4

Grafar o saber não era, então, sinônimo de um idioma escrito alfabeticamente. Grafar o saber era, sim, sinônimo de uma experiência corporificada, de um saber encorpado, que encontrava nesse corpo em performance seu lugar e ambiente de inscrição. Dançava-se a palavra, cantava-se o gesto.”5

Saímos da sala para continuar a conversa, respirar o pulmão da mina.6

Para equipe de educação do Sesc Rio Preto. Que possam seguir coreografando o impossível na “ginga, graça e malícia” .7

    • Tokunbó: Sons entre mares, projeto comissionado da artista Inaicyra Falcão para a 35ª Bienal de São Paulo. Tokunbó é composto desta publicação, da gravação e da apresentação de um disco e sua performance lírica. 
    • Frase dita por Morrison em um discurso em 1980: “Se há um livro que você quer ler, mas não foi escrito ainda, então você deve escrevê-lo”.
    • Poema “A queima de papel em vez de crianças”, escrito por Rich em 1968.
    • Saidiya Hartman em “Vidas rebeldes, belos experimentos: histórias íntimas de meninas negras desordeiras, mulheres encrenqueiras e queers radicais”. 2022, p. 53.
    • Leda Maria Martins, “Performances do tempo espiralar: poéticas do corpo-tela”. 2021, p. 36.
    • Obra de Luana Vitra para a 35ª Bienal.
    • “Correspondência entre vozes, uma carta para abrir conversas”, equipe de educação da Fundação Bienal de São Paulo.