35ª Bienal de São Paulo
6 set a 10 dez 2023
Entrada gratuita
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35ª Bienal de
São Paulo
6 set a 10 dez
2023
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Aurora Cursino dos Santos
Sem título, sem data
Óleo sobre papel (frente e verso
da embalagem de chicletes)
49,6 × 44,8 cm
Coleção Museu de Arte Osório Cesar, Franco da Rocha
Foto: Everton Ballardin / Fundação Bienal de São Paulo

Aurora Cursino dos Santos e Ceija Stojka

Aurora Cursino dos Santos desenvolveu uma obra que combina memória e imaginação em imagens e palavras. Nascida em São José dos Campos (SP), cresceu sob a influência do pai, que a obrigou a se casar muito jovem. Com o fim da união − que durou apenas um dia −, deixou a cidade natal. Entre as décadas de 1910 e 1930, viveu em São Paulo e no Rio de Janeiro, onde trabalhou como prostituta e empregada doméstica.

Cursino entrou em contato com a pintura ainda na infância. Apreciava literatura, música popular e erudita. Ao frequentar a oficina do Hospital Psiquiátrico do Juquery, que teve entre seus criadores o psiquiatra Osório César (1895-1979) e a coordenação da artista Maria Leontina (1917-1984), Cursino produziu grande parte de suas obras. O cenário sombrio retratado pela artista em muitos de seus trabalhos constitui uma elaboração do trauma diante do machismo, da misoginia, do sexismo e dos violentos procedimentos aos quais foi submetida nesse hospital.

Desde a década de 1940, suas obras foram exibidas em inúmeras exposições temáticas de arte e loucura, muitas vezes sem a devida atenção à potência crítica e à relevância técnica de seu trabalho. Privada de sua liberdade, Cursino faleceu no próprio Juquery.

Os dados biográficos de Cursino são poucos e incertos, alguns partem de suas pinturas, outros se encontram em relatos de médicos psiquiatras. Assim, há a necessidade de uma leitura crítica das fontes dos dados, de reconhecer as violências presentes nos arquivos, e de conhecer a vida da artista a partir de outras temporalidades.

Ceija Stojka (pronuncia-se Tchaia Stoica) nasceu em 1933, em Kraubath, na Áustria. Era a quinta de seis filhos de uma família Roma,1 do povo Lovara, tradicionais comerciantes de cavalos na Europa Central. Recebeu o sobrenome Stojka de sua mãe, seguindo a tradição de seu povo. Quando tinha oito anos, seu pai foi levado pelos nazistas para o campo de concentração de Dachau, na Alemanha, onde foi morto no ano seguinte. Logo toda a família seria deportada para um campo de concentração destinado a ciganos, em Auschwitz-Birkenau. A violência racial que atingiu a família e a vida de Ceija é nomeada pelos Roma com o termo porajmos, palavra que descreve a perseguição e o extermínio de sua comunidade pelos nazistas. Libertada em 1945 do campo de concentração de Bergen-Belsen, a história de Stojka se tornou conhecida fora de sua comunidade em 1986, após seu encontro com a pesquisadora e cineasta austríaca Karin Berger. Seu testemunho tem início com um livro autobiográfico e com sua obra pictórica, composta de mais de mil desenhos e pinturas que rememoram o passado doloroso dos campos de concentração, mas que lembram também os momentos felizes vividos com a família antes da ocupação da Áustria. Pintando em pé na cozinha de seu apartamento nos subúrbios de Viena, usando pincéis e também os dedos, em muitos de seus trabalhos Stojka acrescenta textos na frente ou no verso das telas, aliando palavras a imagens em seu esforço de retirar do silêncio o relato do horror. Stojka faleceu em Viena, em 2013.

Ceija Stojka Sem título, 2003 Acrílica e guache sobre papel 41,7 × 29,4 cm Coleção Antoine de Galbert, Paris Foto: Diego Cestellano Cano2

 

    • Grupo étnico tradicionalmente nômade, que vive atualmente em diferentes regiões da Europa e cujos povos falam variações da língua romani.
    • Tradução: naquela época = 1945 naquela época eu me encontrei no meio deles sob a proteção da minha mãe. nada veio de fora nenhuma ajuda. por que sss