35ª Bienal de São Paulo
6 set a 10 dez 2023
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Faixa 15

Trinh T. Minh-ha

Como retratar o outro, o desconhecido, sem distorcer sua imagem? 

Em 1982, a cineasta vietnamita Trinh T. Minh-ha, que reside nos Estados Unidos, lançou seu filme intitulado Reassemblage – from the firelight to the screen. Este filme é resultado de sua pesquisa de campo realizada nas áreas rurais do Senegal entre 1977 e 1981.

A obra tem um caráter autorreflexivo e leva em consideração tanto a forma como representamos o passado histórico quanto aquilo que está sendo retratado. Em vez de observarmos o mundo através das lentes documentais, os documentários autorreflexivos nos convidam a enxergar o documentário pelo que ele é: uma construção ou interpretação.

Dessa maneira, o trabalho propõe uma dupla ruptura em relação ao estilo documental etnográfico convencional. Em primeiro lugar, a cineasta constantemente questiona sua própria posição por meio de abordagens autorreflexivas. Em segundo lugar, reconhece-se a impossibilidade de se estabelecer um discurso imparcial na relação com outras culturas e povos.

Reassemblage oferece críticas contundentes às estratégias cinematográficas comuns nas convenções do cinema documental clássico, especialmente no âmbito etnográfico. A diretora considera essas estratégias como herdeiras de uma abordagem colonialista, sexista, enviesada e etnocêntrica.

O filme tem duração de 40 minutos e é composto por imagens e sons cotidianos capturados em aldeias rurais do Senegal, com pouca estrutura. As casas são de palha e há criação de alguns animais. Os homens e, principalmente, as mulheres e crianças são mostrados em suas atividades, como a preparação de artefatos de palha trançada, a moenda de grãos com pilões manuais, o transporte de alimentos em grandes cestos sobre a cabeça, o plantio e a forja rústica de ferramentas de aço. Sobre essas imagens surge o som da voz da própria diretora, entrecortada em alguns momentos pelas falas das pessoas que ela retrata. 

Reassemblage apresenta uma formulação de fala próxima, diferenciando-se do falar sobre. Ao filmar o cotidiano de uma zona rural no Senegal, a voz em off da diretora se volta à própria prática cinematográfica e busca desmantelar a exotização, comum às epistemologias coloniais. Falar próximo é reconhecer a lacuna. Ao renunciar à explicação da Outra/do Outro, assume-se que não há uma solução a ser apontada. Como diz Trinh T. Minh-ha “estou olhando em círculo, em um círculo de olhares”.