35ª Bienal de São Paulo
6 set a 10 dez 2023
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São Paulo
6 set a 10 dez
2023
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Faixa 13

Stella do Patrocínio

Olá, eu sou Dandara Queiroz, arquiteta, atriz e modelo. Sou descendente indígena por parte de pai e mãe, criada no estado de Mato Grosso do Sul. Iniciei minha carreira artística aos 16 anos e atualmente interpreto a Josy, umas das personagens principais da minissérie antológica Histórias (Im)possíveis, de que faz parte o episódio Falas da Terra, pensado para o Dia dos Povos Indígenas.

Eu vou te acompanhar nas próximas quatro faixas deste audioguia.

Chegamos ao Falatório de Stella do Patrocínio, artista e poeta nascida em 1941, no Rio de Janeiro. Ela faleceu em 1992 na Colônia Juliano Moreira, instituição psiquiátrica onde foi involuntariamente internada aos 21 anos.

Stella era uma mulher negra, “tinha família, fazia planos, circulava livremente pelas ruas e inclusive frequentava espaços religiosos”, como diz a pesquisadora Anna Carolina Zacharias. A internação compulsória aconteceu num dia em que ela caminhava pela rua com Luiz, que teria se afastado brevemente para buscar comida. Neste ínterim, a polícia civil a capturou. Com o diagnóstico de “esquizofrenia hebefrênica, evoluindo sob reações psicóticas”, Stella foi levada a algumas instituições, onde recebeu os primeiros eletrochoques, até chegar à Colônia Juliano Moreira. 

Esta Bienal conta com uma instalação sonora de Stella do Patrocínio chamada Falatório. São quatro áudios, com duração de cerca de 90 minutos no total. Os registros sonoros foram gravados entre 1986 e 1988 pela artista plástica Carla Guagliardi, então estagiária das oficinas de arte da Colônia Juliano Moreira. Depois, foram consolidados pela Colônia Juliano Moreira em acordo com o Movimento Nacional de Luta Antimanicomial brasileira. 

A sala onde está a obra é redonda e suas paredes são pintadas de preto. A proposta deste espaço é que foquemos na escuta dos áudios. 

Podemos perceber que as reflexões de Stella do Patrocínio, repletas de densidade poética, denunciam as intersecções entre múltiplas violências institucionalizadas. Especialmente, o suposto adoecimento psíquico aparece atrelado à condição racial e de gênero que Stella experienciava, reativando a violência da escravidão, do racismo e do colonialismo. Stella conta que, na instituição, “um presídio de mulheres cumprindo a prisão perpétua”, ela passa fome, sofre. Incitada a falar pela entrevistadora, ela diz: “Eu já falei o que podia, não tenho mais voz. Eu já até falei que eu não ando pela cabeça, pela inteligência. Estou com a cabeça ruim, sem poder pensar.” Paradoxalmente, é justamente essa inteligência, expressa pela oralidade e pela experiência sonora negra, que se torna uma estratégia de fuga e sobrevivência de Stella do Patrocínio.